As desculpas de Santos Silva ofendem-me
Ferreira Fernandes
Se há coisa com que engalinho é um pedido de desculpas a seguir a uma explicação que desmente razões para desculpas.
Soa a "eu não ofendi, mas se vocês continuam parvos apesar das minhas explicações, então peço desculpa".
Num jantar, o ministro Santos Silva foi gravado a conversar: "O Vieira da Silva conseguiu mais um acordo! Ó Zé António, és o maior! Grande negociante... Era como uma feira de gado!"
Santos Silva explicou-se: falava das duras reuniões de concertação social e gabava o jeito do colega da pasta do Trabalho e Assuntos Sociais.
Se alguém precisava de ser esclarecido, foi.
Todos os negociadores nas reuniões - governantes, patronato e sindicatos - saíram elogiados com a alusão à "feira de gado".
Se alguém nunca foi a nenhuma, leia O Malhadinhas, A Morgadinha dos Canaviais ou contos de Ramalho: machos e mulas estão nas feiras de gado como a vaquinha no presépio, não participam, posam.
Já os feitores e os negociantes, os protagonistas das feiras de gado, são do melhor que há - tomara na concertação social igual profissionalismo.
À feira de gado vai-se com saber da experiência ("leitão de mês, cabrito de três") e analisam-se os dentes às cavalgaduras.
Pode ser que um negociante tenha polainas de feltro, mas é matreiro e persistente e sabe de juntas de bois.
Ser comparado com ele não é insulto, é promoção.
Mas Santos Silva desculpou-se.
Lamento, vejo nisso um insulto a nós todos.
Como se não aguentássemos palavras claras.