Eu não vou ou Sei o que fizeste no
Verão passado
Tal como o economista
Albano Martins e ao contrário do meu colega director do Tribuna de Macau José
Rocha Dinis, eu não vou à recepção de Cavaco Silva, na Torre de Macau. Bem me
podem desfiar o argumento de que foi legitimamente eleito pelo povo português:
pois Hitler também foi eleito legitimamente pelo povo alemão e nada me faria
apertar a mão ao bigodudo como não o faria a este homem que tem destruído o meu
país desde os anos 80.
Claro que não estou a
comparar Cavaco ao ditador alemão mas sim a legitimidade com que chegou ao
poder. Logo, tal não é argumento. Que, em termos estéticos, o actual presidente
representa o pior de Portugal, com a sua pose salazarenta, o discurso
horripilante, o ar de manequim da Rua dos Fanqueiros e o seu passado das
Finanças, isso influi muito pouco na minha decisão.
O que me impede de estar na
sala com o personagem é de ordem moral e política. Na minha opinião, Cavaco
Silva é um dos principais responsáveis pela degradação do país e pelo
fenecimento das conquistas de Abril. Ele e, sobretudo, os seus amigos e clique,
criminosos encartados, em cujo rol nem sequer falta um homicida. Como posso
apertar a mão a semelhante homem?
Maestro da maioria laranja,
vendedor do país aos pedaços para gáudio dos que recebem percentagens e
benesses, amigo dos bancos que são os principais responsáveis pela crise, este
presidente tem sido um cancro na política portuguesa. Não o único, mas um dos
mais perigosos, sobretudo porque, ainda por cima, assume uma pose de dama
ofendida quando alguém chama a atenção, por exemplo, para os ganhos que
usufruiu na compra e venda apressada das acções da famigerada Sociedade Lusa de
Negócios, a conselho do seu amigo e secretário de Estado no seu governo Oliveira
e Costa, hoje preso. Não terá existido neste caso o crime de acesso a
informação privilegiada?
E não me venham com o
discurso de que não foi o único culpado e que os tipos do PS também têm culpas
no cartório. Claro que têm e por isso é que, entre PSD e PS, uma mão lava a
outra. Será que o facto de terem existido outros culpados de algum modo o
desculpa? É óbvio que não.
Cavaco Silva era
primeiro-ministro quando a União Europeia despejava em Portugal milhões e
milhões de euros por ano. Para onde foi o dinheiro? Nesse tempo, a dimensão do
Estado cresceu desmesuradamente para albergar e pagar favores ao boys que
formaram o Cavaquistão. Foi também nesse tempo que se consolidou a elite de
gente que forma um grupo de ociosos, ciosos de fortuna rápida, normalmente à
conta do erário público ou dos favores que prestaram às empresas e aos bancos
enquanto membros do governo.
Por último: muito mais
haveria para dizer mas deixo apenas mais uma – o seu governo nos anos 90, tal
como o actual governo de Passos Coelho, demonstrou um enorme desinteresse e
mesmo desrespeito pela cultura. Acabou com o respectivo ministério e nomeou
Santana Lopes como secretário de Estado. Foi sob as suas ordens que o
lamentável sub-secretário Sousa Lara impediu a candidatura de José Saramago ao
Prémio Literário Europeu 1992, uma atitude a lembrar a censura fascista e a
demonstrar uma total insensibilidade e desconhecimento do que é a cultura. Que
respeito posso ter eu por este homem?
Não dá. É que eu sei o que fizeste no Verão passado.
Não dá. É que eu sei o que fizeste no Verão passado.
* Este texto não é um
editorial do director do Hoje Macau, mas um artigo de opinião de um cidadão
português, residente em Macau há 24 anos.
GOSTEI DE LER!!
Este cidadão foi dos que
não TRANSPORTOU MALAS CHEIAS DE DINHEIRO DE MACAU PARA LISBOA!!!
POIS É ...... OUTROS NÃO
PODEM DIZER O MESMO.
NÃO É, FOCINHO DE PORCO???