Natália Correia - intelectual,
poeta, activista social açoriana, deputada à Assembleia da República pelo
circulo do PPD (Partido Popular Democrático), faleceu em 16 de Março de 1993,
com 69 anos de idade.
Leiam com atenção o que ela pensava sobre o país.
Premonição?
LUCIDEZ E CLARIVIDÊNCIA SOBRE O FUTURO (TRISTE) DE UM PAÍS:
"A nossa entrada (na CEE) vai
provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém,
explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua
vocação é ser colonialista".
"A sua influência (dos
retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja
imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e
tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo
muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem
aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe
visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso
levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de
querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez
vingança!"
"Portugal vai entrar num tempo de
subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".
"Mais de oitenta por cento do que
fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê?
Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da
sofisticação tecnológica".
"Os neoliberais vão tentar
destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só
me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste
desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".
"Há a cultura, a fé, o amor, a
solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que
acreditem nestes valores?"
"As primeiras décadas do próximo
milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência,
abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O
Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e
a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos
vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe
média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se
observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas
é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir"."
Natália Correia.