Hoje comemora-se o Dia Mundial da Saúde. Para quem, como eu,
pensa que estas efemérides, são como certos genéricos que não passam de
paracetamol, vulgo aspirina, mas que se quer fazer crer que são exactamente o
mesmo que o medicamento de marca, puro engano e falácia para enganar o doente.
De qualquer forma, com ou sem festança, que a data sempre determina nestas
alturas, seria de todo interesse que os portugueses tivessem acesso ao retracto
do sector da Saúde fornecido pelos dados divulgados pelo Instituto Nacional
de Estatística e, principalmente que houvesse a capacidade e discernimento de
os entender.
Isso sim, seria algo de muito importante para se perceber
como anda a Saúde no nosso país. De uma análise ao referido retracto
conclui-se, sem necessidade de recurso a grandes análises estatísticas
descritivas que, o sector da Saúde vai de mal a pior, em Portugal.
Desde logo, são perfeitamente identificáveis quer a
brutalidade dos racionamentos introduzidos pelo actual Governo nos hospitais
públicos, quer como esta gestão de merceeiro tem favorecido o negócio da saúde
privada.
Só entre 2002 e 2010, o número de actos complementares de
diagnóstico cresceu continuadamente nos hospitais públicos, mas a partir de
2010 baixou substancialmente.
Assim, entre 2010 e 2012, os hospitais públicos fizeram
menos 44 milhões de actos complementares de diagnóstico (análises e exames como
radiografias ou endoscopias) e menos 2,6 milhões de actos complementares de
terapêutica (fisioterapia, radioterapia, etc.).
Nestes dois anos, 2010 a 2012, o número total de exames e
análises caiu 27%.
Em contrapartida, neste período, as unidades privadas
aumentaram substancialmente a sua actividade nestas duas áreas, embora o
aumento verificado não tenha sido suficiente para compensar a redução
verificada no sector público, o que nos releva um outro aspecto preocupante.
Da mesma forma, entre 2010 e 2012, nos hospitais privados,
que em 2012 asseguravam já 8% do total das análises e exames (em 2002 eram
apenas 1% do total), esta actividade aumentou substancialmente mais de 1 milhão
de actos em 2010, para 9,6 milhões em 2012.
Os portugueses deixaram de fazer determinados exames e
análises e, a explicação só pode ser encontrada no aumento brutal dos custos de
tais diagnósticos. Ou seja, o português passou a ser um cidadão do oitavo mundo
a quem, por falta de dinheiro, lhe são negados os cuidados médicos de
diagnóstico.
O mesmo relativamente ao número de atendimentos em urgência,
que também cresceu substancialmente nos privados, praticamente duplicando numa
década, passando dos 460 mil de 2002 para os 800 mil em 2012.
Ao longo desta década, os hospitais públicos perderam cerca
de três mil camas, enquanto os privados passaram a dispor de mais 1400 camas.
Em 2012, os hospitais privados já eram responsáveis por
mais de um quarto, 28%, do total das consultas externas e por quase 12% das
urgências.
Também as grandes e médias cirurgias, depois de terem
crescido até 2010, diminuíram em 2011 e 2012 no sector público, refere o mesmo relatório
do Instituto Nacional de Estatística.
Os portugueses que podem fogem dos hospitais públicos, os
que não têm como escapar sujeitam-se aos perigos de serem atendidos em condições
cada vez mais desumanas e deploráveis. Atente-se na carta aberta que as
instituições ligadas à Saúde, em Portugal, enviaram ao ministro Macedo.
Mas como pior que o cego, é o que não quer ver, dado os interesses instalados o senhor ministro da saúde, Paulo Macedo, veio dizer esta barbaridade, mais uma: “Não há maior disparate que dizer que na Saúde houve cortes cegos”. Os dados do Instituto Nacional de Estatística vieram dar-lhe razão: não foram cortes nada cegos, foram cortes muito bem direccionados. Os privados, que já tinham razões de sobra para aplaudirem o bom trabalho dos seus antecessores, nunca tiveram um Ministro da Saúde que por eles fizesse tanto em tão pouco tempo. Degradar primeiro para privatizar depois. Está quase.
Mas como pior que o cego, é o que não quer ver, dado os interesses instalados o senhor ministro da saúde, Paulo Macedo, veio dizer esta barbaridade, mais uma: “Não há maior disparate que dizer que na Saúde houve cortes cegos”. Os dados do Instituto Nacional de Estatística vieram dar-lhe razão: não foram cortes nada cegos, foram cortes muito bem direccionados. Os privados, que já tinham razões de sobra para aplaudirem o bom trabalho dos seus antecessores, nunca tiveram um Ministro da Saúde que por eles fizesse tanto em tão pouco tempo. Degradar primeiro para privatizar depois. Está quase.
Tenham um bom dia, de preferência com boa e melhor saúde.
(Crónica na Rádio F - 7 de Abril de 2014)