Fernando Paulouro Neves assina, no Jornal do Fundão de 6 de Janeiro um editorial que importa ler.
Ler e perceber muito bem a mensagem.
Só que neste país acreditamos que muitos poucos a entenderam.No entanto, aqui fica com uma dupla intenção. Dá-la a conhecer!!! Depois, se não a entenderem à primeira leiam-na, duas, três vezes....quatro se for caso disso....façam esforço para a entender.
Era importante.
Se desistirem à primeira, paciência fica a intenção.....Ler e perceber muito bem a mensagem.
Só que neste país acreditamos que muitos poucos a entenderam.No entanto, aqui fica com uma dupla intenção. Dá-la a conhecer!!! Depois, se não a entenderem à primeira leiam-na, duas, três vezes....quatro se for caso disso....façam esforço para a entender.
Era importante.
Com o título “Assim se amordaça o falar, assim se fazem as coisas”, Fernando Paulouro escrevia:
"A NARRATIVA da informação, contaminada pela subserviência aos poderes ou refém deles ( económicos e político) transformou-se, em Portugal, num território cinzento, às vezes com ligação de trela forte à voz dos donos, outras seduzida pelo charme da vichyssoise política, que habitualmente se serve fria. Essa teia de procedimentos e de práticas, que se detecta à escala nacional, com maior amplitude no grande écran, tem situações afluentes em várias latitudes. Às vezes, basta olhar a narrativa, quando as circunstâncias indiciam putativas mudanças de mando (vemos/ouvimos/e lemos), para perceber as súbitas nuances de escrita, a modulação gradativa das vozes, a diluição da perspectiva crítica. Transformações subtis, ou nem tanto, para dar razão aos versos de Camões se os adaptarmos às pulsões da política: mudam-se os tempos/mudam-se as vontades. Essa formatação produz domesticação da liberdade de expressão e um discurso absolutamente medíocre e subalterno. Sabemos todos que não é possível viver sem ideias e que falar é a grande autonomia dos homens em relação a outros animais. Mas não faltam teorizadores de silêncios, que abominam o direito à indignação ou o pensamento em voz alta. Mentalidades provincianas. Então, impõem receitas de pura conveniência, um catecismo com recomendações para os dias que passam: Falem baixinho. Critiquem com doçura. Façam vénias. Não se indignem que parece mal. Agradeçam o pão que o diabo amassou. Contenham as raivas (mesmo quando as injustiças são clamorosas). Não olhem para cima. Sejam gratos a quem programa a infelicidade. Repitam muitas vezes que “o mundo sempre foi assim”, “o que é que se há-de fazer?”, “sempre, desde que a terra é terra, houve ricos e pobres”, digam que “as desigualdades e a fome são coisas naturais, que devemos olhar com resignação – Cristo não morreu na cruz?”. Parece ser essa a ladainha com que nos encomendam os dias que aí vêm, que já não têm direito a amanhãs que cantem, mesmo em surdina, nem aceitam acenos de esperança para memória futura. Assim se programa o conformismo, assim se reproduz o unanimismo, assim se semeia a apatia cívica, assim se amordaça o falar. Assim se fazem as coisas»
«in Jornal do Fundão, 6 de Janeiro de 2011»