quinta-feira, dezembro 11, 2025

Ponto de vista

    Como é do conhecimento geral as regiões do interior do país sofrem com o despovoamento gradual, resultado de vários fatores que se acumulam, desde o envelhecimento e a baixa natalidade e com as populações mais jovens a migrarem para o litoral, ou para o estrangeiro, à procura de melhores oportunidades.

Só no distrito da Guarda os dados são particularmente alarmantes entre 2011 e 2021, o distrito perdeu 17 920 habitantes.

    Muitas freguesias apresentam densidades muito baixas.

Em algumas zonas do interior, há municípios com menos de 10 habitantes por quilómetro quadrado.

    Isto significa que muitos concelhos do interior enfrentam não só queda de população, mas também perda de base económica e social: menos pessoas em idade ativa, menos filhos, e mais idosos — o que põe em risco a sustentabilidade e a continuidade dessas comunidades.

    De acordo com projeções divulgadas em 2025 pelo Instituto Nacional de Estatística, se as tendências atuais se mantiverem, a população residente em Portugal poderá cair de 10,7 milhões para cerca de 8,3 milhões até 2100 com uma forte ajuda da nova lei da imigração importa salientar.

    Ou seja: se nada mudar — migração, investimentos, políticas de fixação — há risco concreto de que muitas zonas do interior continuem a perder habitantes, agravando o desequilíbrio demográfico e territorial.

    Cumulativamente a economia no interior é menos diversificada. Há menos indústria, menos serviços e menos empresas capazes de atrair trabalhadores qualificados.

    As soluções para este estado de continuada degradação existem, mas tardam a serem aplicadas. Mesmo que haja incentivos fiscais e apoio às empresas para que se estabeleçam no interior, o resultado é praticamente nulo.

    Deveria existir melhor acesso digital em toda a região, o que promoveria o teletrabalho como forma a fixar jovens nas áreas menos densamente povoadas. E deveria haver um maior investimento em setores emergentes: energias renováveis, agricultura moderna, biotecnologia e turismo sustentável.

    Este cenário dramático, já conhecido, vem a propósito de uma notícia divulgada a semana finda onde era dado a conhecer que a empresa que faz a distribuição de jornais diários e revistas em Portugal, nomeadamente no interior do país, considera a hipótese em janeiro do próximo ano deixar de fazer a distribuição, precisamente nos oito distritos das áreas menos povoadas, distritos de Beja, Évora, Portalegre, Castelo Branco, Guarda, Viseu, Vila Real e Bragança.

    A empresa alega que as rotas são deficitárias em termos de receitas resultantes da continuada quebra das vendas de imprensa e do aumento significativo dos custos operacionais.

Não basta à empresa distribuidora vir dizer que se diz comprometida com o acesso universal à informação, entendendo-o como um pilar essencial da coesão territorial, da igualdade de oportunidades e do exercício pleno da cidadania democrática.

    A restrição desse acesso penaliza de forma injusta as populações de territórios de baixa densidade e aprofunda as assimetrias regionais.

O problema não se resolve como muitos anunciam com as assinaturas digitais. É que o poder de compra de muitos dos habitantes dessas áreas é baixo e muitos nem sabem usar os meios tecnológicos.

    Importa que se preserve o acesso à informação em todo o território nacional, evitando a criação dos chamados "desertos de notícias". O que significa áreas geográficas, tipicamente regiões do interior do país, onde não existem ou estão em vias de desaparecer fontes de jornalismo local e independente que produzam notícias de interesse público para a comunidade.

    A principal consequência destes desertos é a falta de acesso dos cidadãos a informação essencial sobre a sua localidade, região ou do seu país. Deixar às televisões o único meio de informar, educar, entreter os cidadãos, a sua grande maioria nessas regiões com pouco ou nenhum poder argumentativo e de análise crítica, é deveras perigoso e contribui para a manipulação da informação, toda ela.

Como é importante reconhecer que a principal consequência destes desertos é a falta de acesso dos cidadãos a informação essencial e imparcial sobre a sua localidade, como as decisões da câmara municipal, atividades das autoridades locais, eventos da comunidade e monitorização do poder político.

    E assim vai um país onde a informação, toda ela, continua a ser um privilégio das elites dominantes e abusivamente controlada pelos poderes instalados.

Tenham uma excelente semana.