A melhor e mais conspícua definição do que é um banco encontramo-la na célebre frase de autor desconhecido. «Um banco é um estabelecimento que nos empresta um guarda-chuva num dia de sol e o pede de volta quando começa a chover».
Vem tudo a propósito do anúncio dos milhões conseguidos em 2022 pelos 4 maiores bancos portugueses, de forma sevandija face à miséria dos portugueses.
Segundo dados divulgados os agiotas tiveram um “super ano” em 2022, com resultados líquidos acima dos 2 000 milhões de euros, o que representa uma subida expressiva de 52% em relação ao ano transato.
Muitos factores ajudaram a construir aquele que foi o melhor ano para o setor, em muito tempo. Mas há um ponto em comum em todos eles: a subida das taxas de juro, que fez a margem financeira disparar 30%.
Isto significa que quatro dos cinco principais bancos portugueses – o Novobanco só apresenta contas no dia 9, mas já se sabe que vão ser lucros recorde, possivelmente os melhores da banca privada – lucraram mais 5,5 milhões de euros por dia.
O lucro, por exemplo, da Caixa Geral de Depósitos aumentou 46% para 843 milhões de euros em 2022, e com o banco público a anunciar dividendos recorde acima dos 352 milhões de euros. O que, em média, significa que a Caixa Geral de Depósitos lucrou 2,3 milhões de euros por dia durante o ano passado.
Com este aumento brutal nos resultados do exercício da Caixa Geral de Depósitos quem vai beneficiar é o Estado que vai receber um dividendo recorde de 352 milhões de euros e receberá ainda o edifício-sede da instituição no valor de 300 milhões de euros.
Ou seja, as finanças do Estado receberão uma enorme taluda fora da época natalícia.
Convém lembrar que os resultados excessivos não são apenas devidos à subida aviltante das taxas de juro mas também à redução do número de trabalhadores e às feéricas comissões pagas pelos clientes que subiram 8% e foram de 606 milhões de euros no ano passado.
A título de exemplo trazer à colação que os bancos chegam à bizarra e estólida atitude de cobrar por uma simples fotocópia mais de 6 euros.
Vem tudo a propósito da subida dos valores das prestações a pagar ao banco, nomeadamente, nos créditos à habitação.
No pacote da habitação propagandeado pelo primeiro-ministro António Costa era anunciada a possibilidade de, mediante determinadas condições, renegociar a dívida com a agiotagem.
Logo comentadores sérios e já conhecedores das patranhas de uns e de outros desconfiaram da medida e tendo presente a forma submissa da actuação do governo face aos poderosos suspeitaram que tal medida tivesse alguma execução prática. E as suspeitas da nulidade de tais medidas veio-se a confirmar. Menos de 1% das dívidas foram renegociadas. Resta saber se não haverá, como se chegou a aventar, consequências nefastas para os que ousaram pedir a renegociação das dívidas. É bom lembrar que ainda está por cobrar uma dívida de 225 milhões de euros aos bancos por durante 10 anos terem falseado as condições de concorrência no mercado ao trocarem entre si dados dos clientes relativos a créditos vários. Os dados eram partilhados por email e por telefone entre os funcionários com o aval das administrações que "autorizaram previamente a troca de informação”, disse o Tribunal da Concorrência.
Mas não são apenas os bancos a falsear a concorrência.
O escândalo que circula nas cadeias de retalho alimentar e fornecedores, telecomunicações, resíduos, mercado laboral, saúde, distribuição retalhista ou contratação pública é mais um escândalo que hipocritamente escapa por entre os pingos da chuva da justiça. E os números mais recentes não abrandam, no panorama geral: desde 2019 foram aplicadas coimas que ultrapassam 1 300 milhões de euros.
Mas ninguém paga.
O crime compensa e quem é lesado é mais uma vez o cliente.
Tenham uma boa semana.