SÍTIO
DA NAZARÉ, 1979
Não
tenho a certeza do nome da senhora (que talvez se chamasse Maria Augusta) a
quem os meus avós alugavam casa no Sítio, mas sei que era inequivocamente
cigana e que a casa ficava mesmo ao lado da praça de touros. Eu dormia no
corredor, numa cama minúscula escondida por reposteiros. Os avós entretanto
morreram, e a minha mãe optou pelo campismo selvagem nos pinhais em volta,
antes de se render ao fascínio terapêutico da praia da Consolação.
Desconheço
se devo a essas remotas experiências a tristeza que ainda hoje associo ao
Sítio. Mas parece-me evidente que a minha poesia evoluiu (se é que evoluiu) num
sentido exactamente contrário: passou do campismo selvagem a um longo corredor
vazio onde já não espero encontrar ninguém.
Sítio
(com Inês Dias), Volta d'Mar, Nazaré, 2016.