Vergílio
Ferreira escreveu um dia a propósito de ser direita ou de esquerda. «Os
políticos que se dizem de esquerda, por ser o bom sítio de se ser político,
estão sempre a afirmar que são de esquerda, não vá a gente esquecer-se ou
julgar que mudaram de poiso. Mas dito isso, não é preciso ter de explicar de
que sítio são os actos que a necessidade política os vai obrigando a praticar.
Como os de direita, aliás, que é um lugar mais espinhoso. O que importa é
dizerem onde instalaram a sua reputação, na ideia de que o nome é que dá a
realidade às coisas. E se antes disso nos explicassem o que é isso de ser de
esquerda ou de direita? Nós trabalhamos com papéis que não sabemos se têm
cobertura, como no faz-de-conta infantil. Mas o que é curioso é que o comércio
político funciona à mesma com os cheques sem cobertura. E ninguém tira a limpo esse
abuso de confiança, para as cadeias existirem. Mas o homem é um ser fictício em
todo o seu ser. E é precisa a morte para ele enfim ser verdadeiro.», fim de
citação.
Este texto de Vergílio Ferreira vem a propósito da situação que se
vive na Caixa Geral de Depósitos e com a posição assumida pelos partidos da
dita esquerda sobre a alegada comissão de inquérito àquela instituição.
A Caixa
Geral de Depósitos já foi o banco dos funcionários públicos.
Já foi o maior
banco português.
Já foi uma fonte de receitas.
Depois, a europa disse
que havia concorrência desleal, a troika ditou que negócios lucrativos
teriam que ser vendidos e o governo que foi além da troika, depois de concordar
com entusiasmo, ainda transformou a caixa em fonte de capital para o
buraco do BES.
O primeiro ministro de então, Passos Coelho admitiu um cenário
de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos por causa do BES.
Chegou a dizer
que a solução encontrada para o BES podia implicar
encargos para os contribuintes, devido à participação da Caixa Geral de Depósitos
no fundo de resolução.
Passadas estas decisões ruinosas para o banco
público, eis que, como esperado e desejado por muitos, a Caixa Geral de Depósitos
é um problema para todos por ter sido a solução para alguns.
Havendo tanta
má decisão a imputar aos governos anteriores, não se percebe porque razão a
esquerda bloqueia um inquérito a este banco. Especialmente quando,
historicamente, esta mesma esquerda tem tido um discurso crítico quanto à
banca.
Sempre apoiámos comissões de inquérito aos casos BPN, BPP, BES e BANIF.
É que não há só ajudas a outros bancos há, como houve noutros casos,
empréstimos sem qualquer segurança e, a venda de uma seguradora associada à
Caixa Geral de Depósitos.
Logo, apesar de não vislumbrarmos quaisquer
resultados práticos nas anteriores comissões parlamentares existe, no entanto,
um princípio e valor que prezamos e defendemos, a transparência de todos os
actos públicos.
Tal como em tudo na vida importa saber ser, estar e fazer.
Tenham um bom dia.
(Crónica na Rádio F - 13 de Junho de 2016)