(...)eu só queria um dia ser rei. Um dia não era cabonde; mas uma semana. Se fosse rei uma semana, afianço-lhes que mondava Portugal. Uma fogueira em cada oiteiro para os ministros, os juízes, os escrivães e os doutores de má morte. Para estes decretava ainda cova bem funda, com obrigação de cada homem honrado lhes pôr um matacão em cima. Uma choldra de ladrões! Imaginem Vossorias que um pobre já nem uma bestinha pode ter! Muito tempo conservei aquele cavalito fouveiro -- lembram- -se? -- para me ajudar a espairecer saudades dos tempos em que corria de almocreve Ceca e Meca e olivais de Santarém. Vai senão quando, António Malhadas, salta de lá com nove tostões de sumptuária. Irra, novecentos réis por um cavalicoque, um chincaravelho que não valia, a bem dizer, os guizos dum gato! Raios partam o Governo mailos governados, raios partam tanto tributo com que a gente de bem tem de ustir para andar aí meia dúzia de figurões, de costa direita, mais farófias que pitos calçudos! Raios partam! O governo é um corpo da guarda que nos defende ou é a quadrilha do olho vivo que não faz senão roubar? Quem lhe encomenda o sermão?! Não foi com o meu rico dinheirinho que eles engordaram daquela feita, não foi! Pus o cavalo em praça na feira dos quinze e, louvores ao Senhor que tudo manda, os compradores não faltaram". «O Malhadinhas» do Mestre Aquilino Ribeiro.
E se tivesse sido escrito hoje?
Não liguem a certos por menores. Detenham-se nos maiores.
Está lá tudo, mas tudo.
Ontem como hoje!
E se tivesse sido escrito hoje?
Não liguem a certos por menores. Detenham-se nos maiores.
Está lá tudo, mas tudo.
Ontem como hoje!