domingo, fevereiro 05, 2023

Ponto de vista

 A 27 de Janeiro de 2017, no Panamá, Marcelo, presidente da República de Portugal, em gritos histéricos regozijava-se com o facto de Lisboa ter sido escolhida para realizar as Jornadas Mundiais da Juventude Católica. Um evento, sublinhe-se, de cariz católico e pertencente a uma Igreja Católica Apostólica e Romana.
Marcelo com os seus gritos histéricos queria mobilizar um país para umas jornadas de cariz católico e, mais do que isso, criar um ambiente de festa que envolvesse os políticos e os motivasse a apoiarem tal evento, com verbas absolutamente astronómicas e descomunais mas igualmente a criar um estado de graça que levasse o povo a esquecer o seu estado de sofrimento e a concentrar-se no espiritual. Para mal de Marcelo, no ano em que as jornadas estavam anunciadas aconteceu a pandemia.
Um atraso na festa que não estava nos planos da organização. Mas, finalmente, a pandemia acabou por decreto e a festança vai acontecer em Agosto do ano da graça de 2023.
No entretanto, os donos da Câmara de Lisboa mudam e os novos locatários impõem regras e escolhas à medida dos seus beneficiários. Nestas organizações ou noutras do mesmo género há que aproveitar o momento e distribuir benesses pelos correligionários, pelos benfeitores e principalmente pelos feitores. Regozijar-se com uma jornada que é coisa de países ricos e não de um país pobre, mergulhado na mais profunda crise social, econômica e financeira é de uma barbárie indescritível.
Não se aumentam salários, nem pensões, a carestia de vida a aumentar desmesuradamente, serviço públicos em completa desagregação para que não haja, na boca dos governantes, um aumento da dívida pública e no entanto para as jornadas só a câmara de Lisboa já aprovou a contratação de um empréstimo de médio e longo prazo, até ao montante de 15,3 milhões de euros, para financiar investimentos no âmbito das ditas Jornadas.
Mas há mais!
A Câmara Municipal de Lisboa já se comprometeu a gastar até 35 milhões de euros em vários custos associados à organização da Jornada Mundial da Juventude de 2023. Aquando do anúncio da realização das jornadas em Lisboa Marcelo sabia dos custos. Não sejamos hipócritas. Marcelo queria a paz celestial para não ser criticado, mais uma vez, pela inutilidade do cargo que desempenha. E se o valor das verbas a cobrar aos contribuintes é uma afronta à miséria que milhões de portugueses vivem, que dizer de certas obras que se anunciam? Desde logo um palco/altar de diamantes, isso mesmo de diamantes. O altar/palco onde o Papa irá celebrar uma missa em Agosto vai custar mais de 4,2 milhões de euros e não há ingressos no evento de católicos que o paguem, nem contribuições de empresários católicos como aconteceu em Madrid. Essa jornada de Madrid foi paga pela Igreja Católica, por empresários e cidadãos voluntários. Um palco/altar que custará mais de 4,2 milhões de euros, por ajuste directo, à empresa Mota-Engil que agora tem um Paulo Portas como administrador. Ainda uns hipócritas vêm chorar lágrimas de crocodilo e ter dores de parto com tais gastos. E esquecem-se que exigem um altarzão no Parque Eduardo VII. Que hipocrisias. Além disso, os mandantes dizem que a obra do palco/altar ficará para a cidade e será de fruição dos lisboetas após a Jornada Mundial da Juventude. Por isso a contratação pela Câmara de Lisboa de imediato de um tal Covões, que é só o maior promotor de espetáculos de Verão e mais duas pessoas por 60 mil euros para gerir a organização da Jornada. Não há funcionários na câmara para o fazerem? O outro regedor foi a Castelo Branco buscar um Morão. Nada de muito diferente! Mas se Moedas nomeou uma comissão o governo de Costa não quis perder a oportunidade e nomeou um ex-vereador da câmara de Lisboa, agora desempregado, para coordenar o Grupo de Projeto para a Jornada pelo que receberá a módica quantia de 210 mil euros. Ou seja, feitas as contas o contribuinte português vai ter que pagar, por imposição de uns mandantes, qualquer coisa como 50 milhões de euros, se não existirem as habituais derrapagens. E ainda há que pagar a retirada dos contentores do Complexo Logístico da Bobadela, espaço onde ficará instalado o parque de campismo dos jovens, e que as Infraestruturas de Portugal prevêem gastar 100 milhões de euros, valor que incluiu as obras para a substituição do complexo. No total falamos de mais de 150 milhões de euros, isto se não houver derrapagens. Coisa pouca para um país na miséria. Ainda nos falam na Constituição e na separação entre o Estado e as igrejas. Mas isso é só letra de Constituição. Já tivemos uma Expo 98 que era o maior evento com o maior retorno das nossas vidas. Depois foi o Euro 2004 e os seus estádios que era o maior evento com o maior retorno das nossas vidas. Mais recentemente a Web Summit foi o maior evento com o maior retorno das nossas vidas. Não sei para onde vai o retorno, mas quem paga o investimento são sempre os mesmos.
Tenham uma boa semana.