segunda-feira, maio 30, 2022

Um testemunho a considerar

Eis um testemunho que devia envergonhar uns escribas de assuntos comuns às redações da minha terceira classe.
«Covid-19. Outra vez. Exactamente seis meses depois.
Experiência de doença muito parecida, só que em vez de começar com dor de garganta começou com nariz entupido. Evolução muito rápida nas primeiras horas para um estado gripal e, depois, aquela tosse que vai dando um ar da sua graça (e ainda por aqui anda).
Experiência muito pior com o SNS. 48 horas depois do teste na farmácia (que me custou 15 euros) continuava sem receber qualquer mensagem com a declaração de isolamento. 
Passei, então, várias horas ao telefone a tentar falar com a Saúde 24. 
Às vezes a chamada caía. 
Outras vezes fiquei num loop de "digite o número de utente", "responda às questões com sim ou não", "aguarde o atendimento", e passados uns minutos de espera recomeçava tudo do início. 
Houve uma vez em que de facto consegui falar com uma assistente que, depois de me perguntar tudo de novo, achou por bem reencaminhar-me para o serviço clínico e vai daí fiquei mais dez minutos à espera até a chamada cair. 
Várias tentativas depois, lá consegui, sei lá como, que uma voz automática me garantisse que iam enviar a declaração. Mandaram, sim, mas com a data errada, uma vez que a máquina não percebeu que eu já estava há dias a tentar ter a porcaria do papel. 
Adiante.
Estou há sete dias em casa, molengas mas sem mais problemas. Isolada, praticamente sem falar com ninguém dias inteiros. Vi montes de coisas na televisão (quem diz televisão diz streaming, ok?). Fiz chili com carne, lulas recheadas, filetes de peixe panados, brigadeiros de chocolate. 
Cozinhar, sobretudo cozinhar coisas complicadas, que exigem total atenção e mexer com as mãos na comida (como rechear as lulas ou panar peixe ou fazer bolinhas de chocolate), continua a ser uma das minhas terapias preferidas. 
Mas é uma terapia que engorda e suja muita louça.
Estou farta de estar em casa. 
Amanhã regresso à vidinha. 
Ainda nem voltei e já estou farta da vidinha. 
Precisava de férias. 
Férias disto tudo. 
Férias de mim, isso é que era.»
CUIDEM-SE!ELES E ELAS MENTEM.