quinta-feira, maio 26, 2022

Ponto de vista

Foi dado a conhecer aos portugueses, na semana que findou, o que já todos suponhamos estar a acontecer, a corrupção em Portugal continua a níveis preocupantes. Próprio de países de oitavo mundo! Há cada vez mais casos de corrupção por resolver na Polícia Judiciária. Faltam recursos humanos e técnicos. Mesmo com o aumento do número de funcionários públicos continuam a faltar recursos humanos em muitos serviços. Sabe-se bem o que significa este aumento de funcionários públicos, são mais e mais agentes infiltrados do aparelho partidário que nada acrescentam à qualidade dos serviços mas apenas servem para lamber as botas e serem os olhos e ouvidos do anafado reizinho. De acordo com as estatísticas da Direção-Geral de Políticas de Justiça, que já incluem os dados de 2021, neste ano foi batido o recorde com 909 inquéritos sobre corrupção, o que representa um aumento de 15% em relação ao ano anterior e de 48% comparando com 2017. Mas atenção apenas e tão só falamos de inquéritos e apenas inquéritos. Da fase de inquérito à sua pronúncia como possíveis arguidos há um tempo e espaço enorme e cheio de labirintos que não permitem grandes conclusões. Todos sabemos o que tem uma dita justiça feito aos inquéritos e à constituição de arguidos. Os interesses envolvidos são de muita monta e a vontade de os resolver com seriedade é nenhuma. Os serviçais do sistema afirmam que há uma estratégia nacional do Governo de combate à corrupção. Mas o mal é que a dita estratégia é pouco ambiciosa e não é aplicável aos órgãos de soberania e, portanto, não toca naquelas que são as instituições fundamentais para a democracia e para o combate à corrupção. Em resumo, como convém aos ditos representantes a política fica de fora da dita estratégia. Ou seja, o combate, se é que há combate, fica para os portugueses que não pertencem à classe privilegiada e impoluta dos políticos onde a probidade não pertence ao seu léxico. Como se pode falar de combate à corrupção se fica de fora a corrupção política? Assim como ficam de fora os altos cargos. Todo esse estado de coisas não transmite, não pode transmitir, uma imagem de boa liderança Ou seja de liderança pelo exemplo e, por outro lado, acaba por deixar de fora áreas problemáticas no que toca à prevenção da corrupção. Mais um embuste. É a existência de um estado acima da lei dentro de um estado dito de direito. Importaria, aliás como órgãos internacionais têm preconizado, que a classe dos privilegiados, os políticos, fossem também englobados no combate à corrupção. Mas que igualmente fosse melhorada a gestão de conflitos de interesses, a detecção de riscos e a disponibilização de informação pelas instituições públicas, facilitando, desta forma, uma maior participação da sociedade civil na tomada de decisão e na fiscalização. Mas isso, como se sabe, é na opinião dos protegidos ir longe demais. É entrar na esfera dos negócios públicos onde a opacidade impera para Bem da Nação. A criminalidade informática, o acesso indevido a dados pessoais, sabotagem e a falsidade também se encontra na categoria dos crimes que mais subiram nos últimos cinco anos e, com isso, um agravamento no número de inquéritos que continuam por resolver. De acordo com as estatísticas da Direcção Geral da Polícia Judicial, foram abertos em 2021 um total de 2551 novos inquéritos, mais 55% do que em 2017. E se de burlas se fala lembrar que as burlas informáticas tiveram uma das maiores subidas do quinquénio: de 7 373 processos abertos em 2017, passaram para 18 189 em 2021 - mais 146%. E agora que vêm aí grandes volumes de fundos europeus, os riscos de má utilização de fundos, de desvio dos mesmos, de influências que se movimentam para captar de forma indevida a sua distribuição, era fundamental ter medidas de prevenção a começar pela transparência de todos os actos. Mas não se espere tal transparência dado que os interesses são muitos. Importa lembrar que os recente casos dos chamados metadados, o incumprimento por parte de arguidos de sanções anunciadas, o abuso do poder judicial e a sua subordinação ao poder político levam a que o dito Estado de Direito esteja em declínio e onde a distribuição de fundos de apoio foi feita de forma "pouco transparente", beneficiando empresas e autarquias próximas do Governo. Lembrar que um dos crimes relacionados com a corrupção que mais se avultou foi o de branqueamento de capitais, na categoria da criminalidade contra o Estado: 658 novos inquéritos em 2021, mais 48% , mais 471% , cinco vezes mais do que em 2017. Esta subida teve, está claro, efeitos também nos casos ainda em fase de inquérito, que aumentaram 52% de 2020 para 2021. Diz tudo sobre o estado actual do país. Numa altura em está previsto Portugal receber quase15 mil milhões de subvenções do Plano de Recuperação e Resiliência da União Europeia é importante também olhar para os casos de fraude na obtenção de subsídios em investigação na Polícia Judiciária. Em 2021 foram instaurados 116 novos inquéritos por fraude na obtenção de subsídio, uma subida de 33% em relação a 2020, estando por resolver no final do ano passado, 205 processos - mais 20%. O Ministério Público já alertou que a estrutura de missão do Plano de Resistência e Resilência não tem meios para evitar fraudes e corrupção na atribuição dos subsídios. Sintomático e preocupante. Mas, os próprios representantes da Procuradoria-Geral da República na comissão de acompanhamento do plano, dizem que a estrutura de missão não garantiu certos procedimentos relevantes, como sejam a validação da ausência de conflito de interesses e mitigação dos riscos de fraude e de corrupção. Será preciso acrescentar mais alguma coisa? Já vimos este filme trágico em anos anteriores, não muito longínquos. A História ensina-nos só que os corruptos de sempre também são gazeteiros, faltam às aulas.
Tenham uma boa semana.