A
última semana trouxe mais uma vez, pelas piores razões, o nome da Guarda para a
comunicação social. Desta feita, devido ao corte abusivo de árvores na avenida
de Salamanca. Trata-se de mais um exemplo de gestão desastrosa de dossiers que
deveriam à partida ser simples e técnicos.
Tanto quanto foi dado perceber ao cidadão
comum, deu em tempos à estampa um estudo da UTAD – Universidade de Trás-Os-Montes
e Alto Douro – que recomendava o abate de uma árvore doente e a poda
fitossanitária de mais umas quantas. O problema é que a árvore doente foi
cortada em 2015 e ninguém conseguiu ainda explicar de forma credível a razão
para o abate de várias dezenas de árvores na semana passada.
Em
Portugal continua a lidar-se muito mal com as questões ambientais, seja do
ponto de vista dos projetos e posterior implementação em obra, seja do ponto de
vista da relação do poder com os cidadãos. No caso da Guarda os problemas
atingem uma dimensão ampliada pela interioridade, fator que em si mesmo
acarreta todo um conjunto de problemas específicos aos cidadãos, os quais por
sua vez tendem a relegar para segundo plano todas estas questões. Ou pelo menos
assim pensam aqueles que nos governam…
Desde
o abate das célebres tílias para se construir a avenida Alexandre Herculano, à
manutenção da poluição e consequente morte do rio Noéme, passando pela
existência de freguesias ainda sem saneamento básico, a Guarda tem sido vítima
de tudo o que é atentado ambiental. Reina uma espécie de impunidade que torna
todos estes incidentes em rotinas emblemáticas da forma como se vai exercendo por
aqui o poder.
O
facto de – desta vez – uma providência cautelar movida por um grupo de cidadãos
ter feito suspender o abate, não altera a substância da questão. É assim que os
políticos estão habituados a fazer e nada nos leva a crer que vão mudar. Como
se fosse já uma tradição. Por isso a pergunta que se coloca nem sequer é a de
se saber por que razão isto aconteceu. A pergunta correta deve ser “porque é
que isto continua a acontecer”?
A
verdade é que os últimos anos revelaram uma vontade em nos fazer descer ao
nível do 3.º mundo em diversos aspetos da nossa vida social e comunitária. Não
é só nas condições de trabalho, nas regalias sociais e nos salários que nos
querem pôr os olhos em bico. Agora é também no ambiente!
O
nível de desenvolvimento de um país não se mede apenas pelos indicadores
económicos, pelo PIB, taxa de desemprego ou nível da dívida pública. Mede-se
também pela consideração e respeito com que são tratados os cidadãos. Ou, neste
caso, os munícipes.
O
registo de Álvaro Amaro em questões de urbanidade, humildade e educação cívica
não é, como se sabe, notável. Por isso o mínimo que se poderia esperar é que
estivesse quieto. Afinal, para árvores que demoram 400 ou 500 anos a atingir a 3.ª
idade, o tempo de vigência de um mandato camarário não passa de um pestanejar
biológico. Se alguma razão houvesse para cortar árvores, não imagino
manifestações ou protestos no caso de o corte se atrasar ou arrastar por mais
um ou dois anos.
Assim,
a pergunta sacramental é a seguinte: “porque insiste Álvaro Amaro em dar tiros
no pé, ficando associado a mais uma gratuita polémica que nos trás à memória
aqueles caciques das cidades tipo Sucupira”? A resposta é simples: “porque
Álvaro Amaro não sabe fazer de outra forma”. De facto, Álvaro Amaro tem tanto
jeito para lidar com assuntos destes de forma sensata e equilibrada como eu
tenho para saltar de um avião com os olhos vendados e sem paraquedas…
Um
velho provérbio dos índios Cree, uma antiga tribo americana, diz qualquer coisa
como “só após a última árvore ser cortada, o último peixe pescado e o último
rio envenenado, o homem descobrirá que dinheiro não pode ser comido”. Álvaro
Amaro pode até não saber o que é um índio, uma árvore, ou um rio. Mas sabe de
certeza o que é o dinheiro. Acho eu.
Ainda
assim, Álvaro Amaro não acredita na sabedoria dos índios Cree. E pelos vistos
nem tão pouco na dos guardenses. Muito bom dia a todos.
(Crónica na rádio F - 07 de Março de 2016)