Vou
hoje contar-vos uma história de embalar, que explica muita da situação a que
lamentavelmente chegámos.
Um
determinado inquilino, candidato aos óscares da patetice no Portugalex,
induziu, não importa se intencionalmente ou não, os pequenos investidores de um
pequeno país a comprarem ações do BES poucos dias antes da intervenção estatal
no banco. Mais tarde, o inquilino justificou-se com a teoria de que as suas
declarações tinham tido por base a informação oficial de que dispunha,
fornecida pelo governo.Ora, diz a lenda que as ligações directas entre o referido inquilino e o universo Espírito Santo sempre existiram. Desde o tempo em que o inquilino foi professor de Ricardo Salgado no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (atual ISEG) na década de 60, até ao mediático encontro entre ambos, num hotel da Suíça, durante o Fórum Mundial de Davos de 1989, passando pelas políticas de liberalização económica promovidas pelos governos do inquilino que conduziriam finalmente à privatização do Banco Espírito Santo Comercial de Lisboa, houve um pouco de tudo.
O retorno em força dos Espírito Santo ao país aconteceu dois anos depois da reunião no hotel da Suíça, na sequência de um jantar na casa do Estoril onde, em Julho deste ano, Ricardo Salgado viria a ser detido no âmbito da operação “Monte Branco”. Para além do inquilino e da sua excelsa esposa, estiveram presentes nesse jantar com Salgado o então primeiro-ministro Durão Barroso e Marcelo Rebelo de Sousa, entre outros. Na altura, o semanário “Expresso” adiantou que o convite tinha como objectivo pressionar o inquilino “a candidatar-se às eleições presidenciais de 2006”, o que viria a suceder.
Ricardo Salgado fez questão de, no ano seguinte, doar o máximo permitido por lei à candidatura do inquilino. A família Espírito Santo foi uma das grandes financiadoras, tendo doado cerca de 105 mil euros – o que representa mais de 5% do total dos fundos da campanha. Só Salgado doou 23 mil euros, o máximo então permitido por lei. O banqueiro foi mais longe que Oliveira Costa, então presidente do BPN, que “apenas” doou 15 mil euros. Em 2010, Salgado voltou a dar a mão ao inquilino. Num evento organizado pelo “Económico” o banqueiro defendeu a recandidatura: «O inquilino é uma referência nacional. Acho que se deve recandidatar».
Foi também o BES Investimento quem financiou, com mais de 21 milhões de euros, a compra do Pavilhão Atlântico pelo consórcio liderado por Luís Montez, o empresário de comunicação genro de inquilino. Isto apesar dos vários processos de execução em tribunal, por dívidas a terceiros, contra as empresas do rapazinho. Recorde-se que o Pavilhão Atlântico custara ao Estado a módica quantia de 50 milhões de euros e «era rentável», tendo os seus lucros triplicados entre 2009 e 2010, segundo o parecer da própria ministra Assunção Cristas…
E é este inquilino que agora nos vem dar lições de moral acerca da culpa dos partidos políticos na situação a que chegou Portugal!
Ambrose Bierce, em “O Dicionário do Diabo”, definia um hipócrita como um «indivíduo que, ao professar virtudes que não respeita, assegura as vantagens de parecer ser aquilo que despreza». Deve ser por isso que a mim, para quem a arte da velhacaria continua a ser um verdadeiro mistério, só me apetece dizer: vão mas é todos para a p… que os pariu…! Olé!
Por:
Jorge Noutel
(crónica publicada no jornal O Interior, em 09 de Outubro de 2014)