Soube-se recentemente
que José Luís Arnaut, o militante do PSD, ex ministro de Durão Barroso e de
Santana Lopes vai agora para diretor-executivo
da Goldman-Sachs.
Infelizmente, Arnaut é
o tipo de figurante que não é exemplo para ninguém nem para nada.
Recordo-me de ele ter
em mãos grandes dossiers de
privatizações, como foi o caso da REN. A REN era cliente do escritório de
Arnaut. Este escritório participou, através de um contrato com a então
Direcção-Geral de Energia, na elaboração das propostas de lei de base e respetivos
diplomas regulamentares daquilo que viria a ser o novo enquadramento
legislativo nos sectores da eletricidade, gás natural e petróleo. No fim do
processo de privatização, José Luis Arnault foi nomeado administrador não-executivo
da REN, indiferente a toda a polémica que isso desencadeou.
Mas há mais. Arnaut
esteve também na privatização da ANA, sendo assessor jurídico do concorrente vitorioso,
o grupo francês Vinci. Depois, passou a presidir à assembleia-geral da empresa.
A seguir, muito mais recentemente,
esteve envolvido na oferta pública de venda dos CTT à Goldman-Sachs, que com cerca
de 5% se tornou no maior acionista dos Correios. A mesma Goldman que o vai receber
agora como diretor-executivo.
Se tudo isto era mais
que suficiente para que o ministério público de um qualquer país dito
civilizado investigasse a preceito, então que dizer das negociações dos swaps com o estado, onde a sociedade de
Arnaut representou também os interesses de alguns bancos, entre os quais a
Goldman e o JP Morgan?
Chegados a este ponto,
ficamos sem perceber onde é que acaba o PSD e onde começam “Os Sopranos”. Sabemos,
isso sim, que para a Goldman-Sachs até a mula da cooperativa servia, desde que
tivesse bons contactos e movesse influências. Como parece ser o caso.
Mas as coisas não ficam
por aqui. Ficou a saber-se que o ex-ministro das finanças, Victor Gaspar, que
se demitiu por ter falhado todas as previsões, vai ser o responsável pelos
assuntos fiscais do FMI, com o apoio da Alemanha e de Portugal. Até Álvaro Santos
Pereira, o ministro do pastel de nata, vai diretamente para Paris, para a OCDE,
ocupar um cargo na sede.
Estas notícias surgem a
par daquelas que dão como certa a alienação de dezenas de obras do escultor e
pintor surrealista catalão Joan Miró.
O anúncio da venda foi
efetuado, com ar de quem está a desfazer-se do recheio da garagem, pela
ministra das finanças. Estas obras eram pertença de um conjunto de ladrões que
integrava muitos conhecidos e amigos do atual presidente da República,
associados à data num sindicato do crime que dava pelo nome de BPN. Pelos
vistos, não podendo ser desses ladrões, tornaram-se indignas de permanecer por
cá. Quase de certeza, vão agora viajar para o estrangeiro, onde os portugueses,
se as quiserem ver, vão ter de se deslocar.
Incomoda-me o simples
facto de haver gente desta no poder. Dói-me pensar que estamos dependentes da
mediocridade e da ignorância. Tortura-me este tempo protagonizado por gente sem
vergonha! Suponho que no leilão estarão testas de ferro de
banqueiros de todo o mundo para adquirir as obras. Se calhar, representados
pelo escritório do Dr. Arnault.
Face a tudo isto, só
consigo recordar-me de Miguel Torga, quando, no seu diário, dizia: “A
intimidade desta vida de aldeia é um espetáculo ao mesmo tempo repugnante e
maravilhoso. Estrume da cabeça aos pés. Entre o porco e o dono não há
destrinça. Mas, ao cabo, esta animalidade toda, de tão natural, acaba por ser
pura e limpa como a bosta de boi."
Tenham um bom dia e até
para a semana.
(Crónica na Rádio F - 13 de Janeiro 2014)