Eis ali a agiotagem
A minha cabeça
De novo a procura daquela
Melodia que teima
Em nascer as avessas
Se ribomba no contrapasso e se já cruza o ciberespaço
Então
Cuida de ti usurário
Na zona escura do erário
E da folia financeira
Do teu corpo fundo
E mais anónimo
À volta do mundo
Atravessando fronteiras
Esvoaçam
A tua volta esvoaçam
Taxas de juros e câmbios
De cambistas e banqueiros
Títulos e dívidas
Contra seguros
Visões garridas
Malabaristas
E oníricas
Do dinheiro
A minha guitarra não toca para ti
A minha guitarra rosna
Obeso e rebarbativo alardeando
A engorda
O teu figurino
Obesa a corruptela que mais
Disfarça e transforma
Selvagens capitalismos
Em brandos neoliberalismos
O mais doce dos eufemismos
E então
Tu provas na perfeição
Que geres com o teu cifrão
A infelicidade dos outros
Reduzes um drama
O do maior desemprego
A centigramas
A percentagem de uns poucos
Encurralados
Os mais jovens encurralados
Em becos rasos de seringas
Contrafeitos mercadores
Em praças e ruas
Ruelas e avenidas
Envergonhadas
E mais anuladas
As mãos estendidas
De arrumadores
Morreu a proletária ditadura
A ditadura do mercado já nasceu
Se cada vez menos produzem
Mais para a maior minoria
Toda a riqueza
Se cada vez menos para a imensa maioria sobram
Sobras que te caem da mesa
Da guerrilha dos capitais
Em doces paraísos fiscais
Então
Cuida de ti argentário
O que retrata este sudário
E a maior parte do mundo
Que sobrevive na penumbra
De olhos postos em ti
Moribundo
Mas que te olha já defunto
E enches a boca
De direitos humanos
Enches a boca
De fala
Do pensamento
Mas o do trabalho nunca
E porque será
Que esse direito
No esquecimento fica
Se crucifica
Mais
Se abdica
Mas fica a pergunta
Keynes
Ao pé de ti
É arrumado a um canto
É a alegoria