Dia 24 de Abril de 1974.
Que país é o nosso?
Triste, tristemente só, ou na linguagem de um ditador sanguinário, «orgalhosamente sós»!!!
Um país mergulhado no mais profundo obscurantismo; no domínio feudal de uma igreja caquética que não percebia que o mundo se movia e se transformava; os domínios eram todos eles feudais.
Até na música só ouviamos o que a «casta» queria e deixava «passar» na rádio;
Os livros censurados.....só havia a leitura que a escumalha deixava!!!
Só uma minoria conseguia ouvir e ler os que ousavam enfrentar as bestas.
Televisão das 19 horas às 24 horas com a habitual «santa» trilogia, fado, futebol e Fátima. Muitas vezes interrompida, com um lacónico, «Pedimos desculpa pela interrupção, o programa segue dentro de momentos».
O «seguir dentro de momentos» eram as chamadas «conversas em família» de um chefe de governo que tinha parado no tempo, da propaganda ao regime e com linguagem de senhor feudal apoiado na repressão das forças.
Forças sempre prontas a bater, a reprimir a prender e...milhares de vezes a torturar até à morte.
Sim, porque à mesa do café alguém podia denunciar, mentir e acusar quem quer que ousasse dizer algo que fosse contra o regime.
Os bufos e a pide estavam com olhos, ouvidos e nariz atentos à menor movimentação....
Os estudantes que, conscientemente, se revoltavam contra as arbitraiedades dos poderes sofriam a repressão das cargas policiais.
Mas, também os trabalhadores que ousassem reivindicar o pão a que tinham direito eram reprimidos, presos e torturados e...muitas das vezes mortos nos interrogatórios pidescos.
O destino dos que não se conformavam, dos que lutavam dos que queriam a mudança era o combate no local de trabalho, a emigração a «salto» ou a guerra colonial.
A ida para uma guerra que matava, estropiava e enlouquecia uma juventude.
Uma ida com poucas hipóteses de «até ao meu regresso»!!!
Uma guerra feita com carne para canhão de uma juventude sem futuro.
Uma guerra feita com sangue de milhares e pateticamente trazida para o único canal de televisão do regime, com as patéticas paradas do 10 de Junho, na Praça do Império.....com as mensagens natalícias dos desejos de regresso sempre recalcados e ofuscados e...com as imagens patéticas do «adeus», no cais de Alcântara, com os lenços brancos a acenar como se a partida fosse a da virgem!!
PATÉTICAS IMAGENS, COMO PATÉTICOS ERAM OS DITADORES!!!
Este era o país dirigido por um ditador e dos seus lacaios, venenosos eunucos, os vampiros, que tudo controlavam através da polícia, da censura e que assentava o seu jugo nos obscurantismo, na ignorãncia, num ensino, só para alguns, baseado na memória onde pensar, criticar, questionar e raciocionar era PROIBIDO.
Um regime que viria a cair de podre, como caíram e caem todos os outros..