Uma granja é, por definição, uma propriedade rústica de amanho; o conjunto das dependências de uma propriedade agrícola; uma abegoaria, ou seja, um lugar em que se guardam gados e alfaias agrícolas.
Granjas há muitas, por cá, por lá, e até na terra dos unicórnios.
Como diz o povo, dela come e dela dá a comer a quem ela (a granja) quer agradar.
Como propriedade rústica, a granja não pertence a muitos. Ou seja, é uma propriedade na acepção mais filosófica de Proudhon. As ideias do proudhonismo, assentes no seu tratado sobre a propriedade privada, apelidado de pequeno-burguês por ser incapaz de compreender o ponto de vista da classe operária, são utilizadas em grande escala pelos teóricos burgueses para defenderem a “colaboração” entre as classes. Ora, é neste colaboracionismo que se quer existencial e cada vez mais fonte de pecúlio próprio que se vai construindo e consolidando a granja.
Nela vegetam entes que, na mais profunda das suas entranhas, chafurdam em dejectos dos quais se alimentam. Não são seres de qualquer reino, vegetal ou animal, nem quiçá mineral. O reino é a granja e os entes são uma espécie de metamorfose que se encontra algures entre o verme e o calhau de xisto. Quando ganham vida transformam-se em lêndeas…
A lêndea mãe, que é quem governa de facto a granja, produz a patranha, espécie de saliva que brota das suas gengivas podres, resultado do escorbuto de que padece cronicamente. A patranha é também usada para nela se banharem as lêndeas filhas e para deste modo curarem suas feridas. É alimento para todos e os súbditos vivem agradecidos!
Depois de untada a vida com patranha, que lhes fica como brilhantina agarrada ao coiro, qualquer lêndea filha que se preze, logo que se vê assim sebosa, veste ceroulas de lã grossa e deixa que lhe comam o umbigo como se farinheira fosse. Como aliás sucedeu à rainha da granja, quando um dia também foi filha.
Quanto à lêndea mãe de hoje, que tudo faz para ser p…, nem mil vezes prenha conseguiria gerar esterco assim tão penteado e tão ceroulas de lã como ela própria! Nem tão arrogantemente porco nas regueifas que do seu majestático cachaço ascendem ostensivamente ao seu plebeu tutano encefálico. Revela assim a lêndea mãe a sua unicidade e a sua fraqueza. Mas julga, suinamente, que pelo menos não há lugares nem seres humanos livres da presença de Sua Putidade e da sua descendência.
Uma verdadeira hetaira dos tempos modernos.
Assim há locais aonde para se ser filho da p…, mesmo sem regueifas nas ideias ou verdura nas ceroulas, basta a alguém untar-se em patranha ao nascer, treinando assim para as lambidelas da vida.
A lêndea mãe, essa, tudo chama, ignobilmente, seu!
O sentimento de pertença ficou-lhe do facto de ter sido deixada na «roda dos expostos» de uma casa de caridade da senhora do coito!
Cobardemente espezinha e maltrata compensatoriamente quem ousa defender-se das suas garras e não queira ser lêndea.
Na granja a «revolta dos porcos» nunca foi feita.
Será que alguma vez o será?
A granja parece verdejante e viçosa. Só para esconder muita da podridão mal cheirosa que por ali a sustenta…
(artigo publicado no jornal O Interior em 8 de Setembro de 2011)