Este dia, segundo rezam as crónicas, tem uma história interessante. Antigamente o Ano Novo comemorava-se no dia 25 de Março. Data do equinócio da primavera no hemisfério norte. Ou seja, quando a Terra completa uma volta em torno do Sol. As festividades, ainda segundo as crónicas, iam desde o dia 25 de Março até ao dia 1 de Abril. Com a implantação do calendário gregoriano, o início do ano deixou de ser o dia 25 de Março e passou a ser o dia 1 de Janeiro.
Em 1564 o rei Carlos IX de França, precisamente no dia 1 de Abril, proibiu que se comemorasse o Ano Novo no dia 25 de Março.
Os franceses, nada satisfeitos com tal decisão do monarca, começaram a enviar convites para os amigos para festas que não iam acontecer no período de 25 de Março a 1 de Abril para se comemorar o início do Ano Novo.
Foi assim que se estabeleceu o 1.º de Abril como o dia das mentiras.
Toda a comunicação social faz a sua mentira e publica-a com ar sério para enganar os bacocos de sempre.
Só que a mentira, infelizmente, continua ao longo do ano. E acentuou-se neste século. Como alguém um dia disse “o grande acontecimento do século foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota”.
Nem a propósito.
Ultimamente houve, por força do período eleitoral, promessas de mundos e fundos aos portugueses como se o país fosse rico e próspero. Nem as ditas contas certas e o tão falado excedente orçamental o vão permitir. O que vai haver é o apertar do cinto para milhões de portugueses e migalhas a caírem da mesa do faustoso banquete dos bem instalados nesta democracia representativa. Mesmo aqueles que se intitulavam antissistema já têm os tachos e restante trem de cozinha pronto para receber o seu quinhão. Vem tudo a propósito do dia que se comemora, mas igualmente do pior que aconteceu na Assembleia da República aquando da eleição do presidente da mesma. Aliás, o triste número de circo servido aos portugueses em directo e a cores da eleição do Presidente da Assembleia da República é a prova que o espectáculo circense e da distribuição do pão e do vinho vai ter contorcionistas, malabaristas e muita canalha a dar o dito pelo não dito na propaganda manifestada durante as campanhas alegres das eleições. Nada que não estejamos já habituados, mas que ainda engana os pobres e tristes portugueses que em tudo acreditam. Até nas mentiras do 1.º de Abril em dia comemorativo como em qualquer outro dia.
Aumentos salariais, reposição do poder de compra dos trabalhadores no activo como nos aposentados, melhoria dos serviços públicos em completa destruição, melhor e mais educação, saúde, habitação, ou seja, a ilusão de que cada português vai ser rico com casa própria climatizada e um Ferrari à porta. Ilusões que criam nos portugueses o sonho de serem ricos, propondo mais equilíbrio para um país cada vez mais desequilibrado social e financeiramente, para um país injusto e cruel como que acreditando que as classes altas e poderosas iriam prescindir a qualquer custo dos seus privilégios.
E tudo no ano em que se comemora o quinquagésimo aniversário do 25 de Abril e os 500 anos do nascimento do nosso épico Luís Vaz de Camões, ironia do destino.
Do triste espectáculo da eleição do Presidente da Assembleia da República pode e deve-se inferir, sem grandes dissertações, que o espectáculo do circo vai continuar para gáudio de tudólogos, comentadores e para a venda de jornais e aumento das audiências das televisões.
O povo continuará a arrastar-se pelas ruelas e becos imundos sem saber de onde veio e para onde vai, manipulado, cego e macambúzio sem um grito de revolta.
Composição do governo? Para quê falar dos indigitados ministros? O que importa ao povo português é que haja arte e competência para resolver os graves problemas que atingem a sociedade. Que haja transparência nos actos, que se combata a corrupção, que as conveniências pessoais e partidárias não condicionem a acção governativa.
Até lá comemorem o dia das mentiras se para tal tiverem um pingo de esperança nalguma coisa.
Tenham uma excelente semana.