sábado, abril 13, 2024

Ponto de vista

 Depois da vagância e das bem patéticas cenas da eleição do presidente da Assembleia da República e do anúncio dos ministros que vão determinar muito do que será a nossa vida e do episódio rocambolesco da assunção de secretários e secretárias, os tais criados do ministro como disse um dia Cavaco Silva, o verdadeiro ideólogo do novo governo, eis-nos chegados à primeira decisão governamental. Eliminar dos papéis oficiais o logótipo do poder central, sejam eles cartões de visita, ofícios e outros elementos de marca governamental e substituí-lo por outro do tempo de Passos Coelho e Paulo Portas do governo dos tempos malfadados da troika.

Logo surgiram uns vendilhões da praça a confundirem símbolos nacionais, como a bandeira ou o hino com uma ordinária e inútil marca governamental.

Mas é assim a política nacional, o acessório sempre, mas sempre, a sobrepor-se ao essencial para esconder as incapacidades para resolver os problemas prementes do povo português.

Eis senão que surge por interesses confessáveis e bem conhecidos, pelo menos dos que não se deixam enganar pelos escritos de certos zotes que procuram levar a água ao seu moinho, a discussão sobre o recrutamento militar obrigatório.

Trazer para a discussão pública o tema do serviço militar obrigatório é no mínimo enganador e procura iludir mais uma vez o povo português.

Como se sabe no ano de 2000, no governo chefiado precisamente pelo actual secretário-geral da ONU, António Guterres, entrou em vigor um novo quadro legal para o recrutamento militar que se mantém em vigor. Todos nos lembramos das razões que determinaram essa tomada de posição governamental. O mesmo de sempre. Falta de verbas para continuar a assumir encargos incomportáveis.

O actual quadro legal assume três formas distintas: Recrutamento Normal para a prestação voluntária do serviço militar; Recrutamento Especial para a prestação voluntária de serviço militar nos Quadros Permanentes das Forças Armadas e o Recrutamento Excecional, para efeitos de convocação ou mobilização dos cidadãos em caso de guerra ou catástrofe. Ora é aqui que se baseia o trazer novamente à liça tanta conversa sobre o recrutamento militar.

Não esquecer que vários políticos europeus, à cabeça Macron e a Comissão Europeia, defendem o regresso do serviço militar obrigatório para, nas suas palavras, evitar a invasão da Europa pelos russos.

Ora o caso português é, como em tantos outros, a operacionalidade da medida. De onde virá a verba astronómica para equipar umas Forças Armadas? O material existente está obsoleto, veja-se o caso dos tanques que o governo de Costa, gentilmente, cedeu a Zelensky e que nem entraram em funcionamento, pois avariaram de imediato.

Quem pode no seu juízo perfeito acreditar que juventude de hoje aceita ser carne para canhão como no século passado na Guerra Colonial? Perder os poucos empregos que lhes são oferecidos a troco de cascas de alho após pais e restantes familiares terem-se endividado para darem um curso dito superior aos filhos? A fuga para outras paragens iria acentuar-se como aconteceu no recrutamento obrigatório dos tempos da Guerra Colonial. Curiosamente, ou talvez não, são os mesmos que desertaram naqueles tempos ou não cumpriram o serviço militar obrigatório por protecção da casta a que pertenciam que hoje defendem o regresso do mesmo serviço. Curiosamente!

E que dizer das aprendizagens que se fazem na recruta? “Rambos” a executarem exercícios que levam à morte de recrutas? A humilhação dos mancebos! É a isso que se referem quando falam em disciplina militar?

Marcelo, o Presidente da República, ainda não disse nada sobre o regresso do recrutamento militar obrigatório. Lembrar que Marcelo é só o Comandante Supremo das Forças Armadas.

Ele que tudo comenta! Veio dizer e passo a citar“ que Portugal só poderá ser "importante no mundo" se garantir Forças Armadas "fortes".

Um recado belicista? Ir de encontro às tomadas de posição da extrema-direita? Agora que se anunciam comissões de inquérito parlamentar ao caso das gémeas brasileiras? Ou será que se esconde no período de retiro eleitoral? Umas eleições, pasme-se, que só terão lugar em Junho.

O tempo esclarecerá tudo. Será preciso lembrar ao senhor Presidente da República que um país é importante no mundo se o seu índice de desenvolvimento, todo ele, for de elevada qualidade? Saúde, educação, habitação, justiça e todos os outros e acabarem-se de vez com os sem-abrigo como, aliás, foi por ele prometido até 2023 e já estamos em 2024 e cada vez aumentam mais. Haja respeito e discutam-se assuntos de verdadeiro interesse para melhorar a vida dos cidadãos.

Tenham uma excelente semana.