Já não bastava aos cidadãos portugueses honestos ver o ordenado ou a pensão a minguar cada vez mais; já não bastavam os sucessivos escândalos que assolam uma democracia representativa; já não bastavam as decisões de um Tribunal da Relação a arrasar o “mercadejar” de um super juiz criando no cidadão a ideia que a Justiça é uma interpretação subjectiva, quiçá interesseira e pouco ou nada exacta; já não bastava a ruína dos serviços públicos saúde, educação, segurança social, habitação; não lhes bastava assistir ao despudor como um governo assume tratamento desigual às forças policiais no que ao subsídio de risco diz respeito, criando a ideia que a protecção dada a uns é uma moeda de troca para se manterem imóveis tal como os pechisbeques que os ornamentam. E depois de tanta, mas tanta lixeira produzida pelos poderes eis que os agricultores portugueses acordam da letargia em que estavam e reivindicam mais e melhores condições de subsistência. Sim, falo de subsistência. Poucos ou nenhum agricultor, falo dos pequenos e médios agricultores de Portugal, conseguem atingir o patamar de um empresário de outro qualquer ramo de actividade. O sector primário foi sempre o parente pobre dos subsídios e demais benesses que os vários governos distribuem. E o resultado, em muitas regiões, é o abandono da actividade e o acentuar do despovoamento. Deixem a velha e gasta retórica da partidarização dos movimentos. Isso é mais uma vez passar um atestado de menoridade aos agricultores e isso recuso-me a fazê-lo.
Mas como classificar a hipócrita conferência de imprensa abrilhantada por um Medina, ministro das Finanças, e uma Maria do Céu, ministra da Agricultura que por artes mágicas tiraram da cartola um cheque de 500 milhões em véspera dos protestos dos agricultores? Mais uma hipocrisia a juntar a tantas outras!
A crise que afecta o sector agrícola tem múltiplas causas. Desde logo o paternalismo com que os poderes instalados tratam os agricultores. Falar a um agricultor de subsídios é ultrajante. O agricultor não vive de subsídios, resiste estoicamente com as subvenções devidas que, comparadas com as que se verificam no sector secundário, são ridículas. Tal como em outros âmbitos da vida nacional, os sucessivos cortes verificados nos pagamentos aos agricultores no âmbito do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum, em benefício da redução do déficit orçamental, traduziram-se neste descalabro da vida financeira de muitos agricultores. Os cortes verificados atingiram reduções na ordem dos 35%! Outro aspecto nefasto para a agricultura é procurar-se o convívio de uma exploração capitalista propriedade dos bancos cumulativamente com a actividade do pequeno e médio agricultor. As grandes explorações pertencentes aos bancos são as que conseguem fazer escoar os seus produtos, algo que é muito difícil aos pequenos e médios agricultores. Mais uma vez as políticas, neste caso a agrícola, beneficiam as grandes superfícies na aquisição dos produtos, já que os adquirem a um custo abaixo dos custos de produção e vendem-nos a preços elevadíssimos.
Por outro lado, permite-se a entrada de produtos carregados de pesticidas, por razões de natureza política e proíbe-se que na Europa se utilizem tais procedimentos na produção. Falamos do apoio que Bruxelas dá à Ucrânia. Mas importa lembrar que não é esse país que lucra com tais apoios, dado que as suas terras da zona ocidental foram vendidas em 2019 por Zelensky às corporações norte-americanas e europeias.
Importa que o poder político, todo ele, reconheça a importância dos serviços ambientais também na agricultura com produtos de qualidade, que os factores de produção sejam a preços justos e competitivos, e a valorização dos produtos no produtor e por fim, mas não menos importante, que as regras da União Europeia sejam iguais para todos os países e mormente para a entrada de produtos agrícolas de países terceiros seja qual for a motivação política.
Isso, sim, seria prestar contas certas.
Felizmente para a nossa região e, em especial, para a de Seia, ficou prometida a construção da barragem de Girabolhos. Graças ao protesto dos agricultores do Baixo Mondego. Ao fim de tantos anos anuncia-se a construção da barragem que tanto beneficiará aquela região, mas também o baixo Mondego. Um anseio das populações, mas sempre adiado e sempre com falsas promessas. Espera-se e deseja-se que seja desta vez que se concretize o projecto.
Mas duvidamos! Desde logo o anúncio é feito por uma ministra da agricultura sem qualquer poder de decisão na matéria.
Mas ver para crer!
Parece que os agricultores portugueses aceitaram abandonar os protestos, acreditando nas promessas por meio de uma videoconferência, ou seja, um assumir de compromissos em papel molhado de uma ministra da agricultura. Acreditando que será desta que a senhora defenderá os agricultores.
Será? É que ficam sérias dúvidas sobre até onde poderá ir a acção de um governo de gestão.
Mas, como tem acontecido ultimamente, pode ser que a legitimidade das acções seja atirada às urtigas.
A ver vamos, como dizia o cego de Nacomba.
Tenham uma excelente semana.
(Crónica Rádio F - 5 de Fevereiro 2024)
Mas como classificar a hipócrita conferência de imprensa abrilhantada por um Medina, ministro das Finanças, e uma Maria do Céu, ministra da Agricultura que por artes mágicas tiraram da cartola um cheque de 500 milhões em véspera dos protestos dos agricultores? Mais uma hipocrisia a juntar a tantas outras!
A crise que afecta o sector agrícola tem múltiplas causas. Desde logo o paternalismo com que os poderes instalados tratam os agricultores. Falar a um agricultor de subsídios é ultrajante. O agricultor não vive de subsídios, resiste estoicamente com as subvenções devidas que, comparadas com as que se verificam no sector secundário, são ridículas. Tal como em outros âmbitos da vida nacional, os sucessivos cortes verificados nos pagamentos aos agricultores no âmbito do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum, em benefício da redução do déficit orçamental, traduziram-se neste descalabro da vida financeira de muitos agricultores. Os cortes verificados atingiram reduções na ordem dos 35%! Outro aspecto nefasto para a agricultura é procurar-se o convívio de uma exploração capitalista propriedade dos bancos cumulativamente com a actividade do pequeno e médio agricultor. As grandes explorações pertencentes aos bancos são as que conseguem fazer escoar os seus produtos, algo que é muito difícil aos pequenos e médios agricultores. Mais uma vez as políticas, neste caso a agrícola, beneficiam as grandes superfícies na aquisição dos produtos, já que os adquirem a um custo abaixo dos custos de produção e vendem-nos a preços elevadíssimos.
Por outro lado, permite-se a entrada de produtos carregados de pesticidas, por razões de natureza política e proíbe-se que na Europa se utilizem tais procedimentos na produção. Falamos do apoio que Bruxelas dá à Ucrânia. Mas importa lembrar que não é esse país que lucra com tais apoios, dado que as suas terras da zona ocidental foram vendidas em 2019 por Zelensky às corporações norte-americanas e europeias.
Importa que o poder político, todo ele, reconheça a importância dos serviços ambientais também na agricultura com produtos de qualidade, que os factores de produção sejam a preços justos e competitivos, e a valorização dos produtos no produtor e por fim, mas não menos importante, que as regras da União Europeia sejam iguais para todos os países e mormente para a entrada de produtos agrícolas de países terceiros seja qual for a motivação política.
Isso, sim, seria prestar contas certas.
Felizmente para a nossa região e, em especial, para a de Seia, ficou prometida a construção da barragem de Girabolhos. Graças ao protesto dos agricultores do Baixo Mondego. Ao fim de tantos anos anuncia-se a construção da barragem que tanto beneficiará aquela região, mas também o baixo Mondego. Um anseio das populações, mas sempre adiado e sempre com falsas promessas. Espera-se e deseja-se que seja desta vez que se concretize o projecto.
Mas duvidamos! Desde logo o anúncio é feito por uma ministra da agricultura sem qualquer poder de decisão na matéria.
Mas ver para crer!
Parece que os agricultores portugueses aceitaram abandonar os protestos, acreditando nas promessas por meio de uma videoconferência, ou seja, um assumir de compromissos em papel molhado de uma ministra da agricultura. Acreditando que será desta que a senhora defenderá os agricultores.
Será? É que ficam sérias dúvidas sobre até onde poderá ir a acção de um governo de gestão.
Mas, como tem acontecido ultimamente, pode ser que a legitimidade das acções seja atirada às urtigas.
A ver vamos, como dizia o cego de Nacomba.
Tenham uma excelente semana.
(Crónica Rádio F - 5 de Fevereiro 2024)