quinta-feira, fevereiro 29, 2024

Ponto de vista

 Ao longo de várias semanas o povo português foi sendo anestesiado por debates e mais debates dos líderes de partidos e coligações concorrentes às eleições legislativas de Março de 2024.
Tudo, mas mesmo tudo, numa encenação própria de uma democracia representativa que é uma diletante demonstração de amnésia, manipulação e frases de efeito.
A tudo assistimos, pelo menos os que tiveram a pachorra de ouvir tais bem-falantes, nuns casos, e noutros, verdadeiras peixeiradas falando ao mesmo tempo, sem se perceber o que realmente queriam dizer, talvez não interessasse, à mistura com muitas mentiras, um chorrilho delas para enganar a ralé. O obscurantismo na sua forma mais refinada.
Mas ainda tivemos direito, a pagar, aos tudólogos que tudo comentaram, sempre tendo em vista a sua sardinha, ou seja, a puxarem pelos galões dos seus correligionários. Ao ponto de atribuírem notas, qual júri de um qualquer festival da canção, daqueles que uma qualquer colectividade recreativa realiza. Uma patetice ridícula, um gozo perfeito à inteligência dos portugueses.
Mas é assim que funciona certa comunicação social que defende a máxima de Voltaire: “Quando se trata de dinheiro, toda a gente é da mesma religião”. Fim de citação. 
A quem serviram tais debates? A certa comunicação social que em vez de ser informativa serviu-se do menu para entreter o povo que tudo suporta.
Um Partido é a sua história, a sua direcção, o seu programa, os seus quadros, o que dizem e o que fazem, a sua base social, a sua ideologia, nada disto pode ser avaliado em 20 minutos de um concurso medíocre com o tempo contado como num jogo, e seguido  de classificações.
Temas em debate? Quem percebeu o que cada um dos concorrentes ao éden do parlamento tem a oferecer? Se é que de ofertas se pode falar. Promessas, isso, sim, e enganos ainda mais. Falou-se, até à exaustão, na descida de impostos. Uns acusando o elevado peso fiscal que os portugueses suportam, mas esquecendo-se de que o mal não está no fardo dos impostos. Os jovens não imigram pelos impostos, os jovens imigram dado que o Estado não contrata pelo mérito e competência, mas pelo nepotismo e pelo compadrio partidário. Os patrões não querem pagar os salários correspondentes e devidos aos jovens habilitados e com grau de escolaridade e de apetência superior aos deles. Sejam verdadeiros nas análises e não nos queiram tratar como acéfalos.
O fardo fiscal até pode ser elevado, pode! Mas o problema é os portugueses, alguns portugueses, terem ordenados de miséria, terem pensões que só permitem vegetar.
Esse, sim, o problema.
Lembrar que 42% das famílias portuguesas não auferem rendimentos suficientes para pagar IRS! Má distribuição da riqueza. Segundo os últimos dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística, os quais se referem a 2022, estavam no limiar da pobreza 10% dos empregados, 15% dos reformados e 49% dos desempregados. E um grupo designado por “Outros inativos” 31% estavam na mesma situação.
Lembrar que só 40% dos desempregados, em Portugal, recebiam subsídio de desemprego. 
E em Dezembro de 2023 o subsídio médio mensal era apenas de 585 €, próximo do limiar da pobreza.
A isto chamam equidade?
E o flagelo do desemprego aumenta. Em Portugal é a maior causa da pobreza. Os serviços públicos não funcionam não por falta de meios financeiros, mas pela má gestão dos mesmos. Os néscios incompetentes dos aparelhos partidários enlameiam os poderes. E aumentam os casos da maior praga do sistema, a corrupção. Desta forma cresce a desilusão e cresce exponencialmente o populismo. Ei-lo em recrutamento acelerado entre jovens e na população desiludida e ameaça a democracia, mesmo aquela que abre uns meses e logo fecha quando se deita o voto na urna. É disso que o populismo se fortalece, crescendo na montureira. O lixo dos donos dos poderes, todos eles, para onde são atiradas as esperanças dos cidadãos iludidos pelas quimeras da quadrilha.
Sim, como disse Mestre Aquilino Ribeiro, “A Nação é de todos, a nação tem de ser igual para todos. Se não é igual para todos é que os dirigentes que se chamam estado, tornam-se Quadrilha”. Fim de citação!E assim cá vamos, cantando e rindo com a procissão dos ilusionistas a enlamearem ruas, praças, feiras e outros locais a distribuírem aventais, esferográficas, que não riscam, e muitos beijos e cumprimentos. O povo na sua completa ignorância tira-lhes o chapéu e ajoelha. Triste sina a deste povo submisso até à medula.
Tenham uma excelente semana.