Por vezes a vida, e principalmente a falta dela, traz-nos à realidade acontecimentos ou factos com os quais não contamos. Acreditamos que o tempo é incomensuravelmente eterno. Não o é, infelizmente. Aí está a morte, esse final de linha que nos faz pensar que tudo é efémero. A semana que findou ficou marcada, indubitavelmente, pelo falecimento de Virgílio Ardérius. Homem que deixa na Guarda, mas igualmente na região uma marca de grande valor quer no domínio do social quer no da comunicação. Recordar Virgílio Ardérius é lembrar um amigo que conheci na Escola Secundária da Sé onde ambos lecionamos. No momento de lembrar Virgílio Ardérius socorro-me de uma rara entrevista por ele concedida ao Jornal de Notícias a 29 de Junho de 2006. O título da entrevista não podia ser mais elucidativo e caracterizava de forma ímpar o que foi a sua passagem pela vida. «O padre dos sete ofícios» assim o Jornal de Notícias caracterizava de forma lapidar todas as múltiplas facetas de Virgílio Ardérius na promoção e desenvolvimento das terras da beira. Professor, pároco e empresário, director de vários órgãos de comunicação social, presidente da Fundação Frei Pedro e do Centro de Formação Assistência e Desenvolvimento (CFAD) e investidor na área das energias renováveis. Lembrar que sob a batuta e visão estratégica de Virgílio Ardérius o CFAD tornou-se a IPSS do País que mais apostou nas energias renováveis, uma forma de diversificar as suas receitas e, dessa forma, garantir uma melhor sustentabilidade financeira. O CFAD nasceu sob o lema da formação integral do ser humano. Após a criação do Serviço de Apoio Domiciliário, o CFAD, abriu o Centro de Dia e mais tarde criou o Lar Santa Clara, fechando um ciclo de apoio à terceira idade. Mas desde o início também houve a preocupação de acolher as crianças cujos pais trabalhavam e assim surgiu o ATL. Mas igualmente a formação esteve presente na área de actuação do CFAD quer ao nível da formação profissional, como o do Centro das Novas Oportunidades. Esta diversidade de actividades que marcaram a vida de Virgílio Ardérius segundo o próprio desde muito novo era uma doença nas palavras do próprio. Estava-lhe nos genes, dizia Virgílio Ardérius, atribuindo tal facto ao avô que era catalão. Em 1957, foi ordenado padre. Nunca fui pároco para a sacristia, dizia Virgílio Ardérius. Tive sempre uma visão eclética, aberta. Daí ter sido sempre acusado de padre progressista, excessivamente moderno, acrescentava. As obras de Virgílio Ardérius nos diferentes domínios, mas principalmente no social e na comunicação deram emprego a muitos cidadãos. Esse foi, muito provavelmente, o seu maior e mais profícuo labor em prol do desenvolvimento da região. "Tenho a noção que faço alguma coisa, mas não acho que seja nada de extraordinário", disse Virgílio Ardérius. Tenho a ousadia de discordar consigo. Fez e muito de extraordinário. Não se acomodou em lugar algum. Foi empreendedor e abriu horizontes e quando não os abriu ajudou a abrir. Fez da sua vida uma forma de construir um futuro melhor para jovens e menos jovens. Como disse um dia Arthur Schopenhauer: «As pessoas comuns pensam apenas como passarão o tempo; um homem de intelecto tenta usar o tempo». Virgílio Ardérius desapareceu do nosso convívio e das suas actividades. Esperamos e desejamos que os que venham a seguir tenham engenho e arte para as consolidarem no futuro, são os nossos sinceros votos. Sei que a vida não parou, que muitos outros acontecimentos marcaram as nossas vidas, mas dêem-me a liberdade de honrar alguém que fez muito pela nossa região.
Obrigado e até sempre Padre Ardérius.