domingo, novembro 27, 2022

Ponto de vista

Miguel Sousa Tavares escrevia no jornal Expresso do dia 11 de Novembro de 2022 o seguinte, e passo a citar: «Hoje, um general que também aspira à eternidade constrói uma nova capital na areia, um templo ao luxo, contrastando com a miséria do povo. E nos cartazes de rua sorri, esperando que o povo lhe agradeça. Enquanto, por estes dias, recebe nas praias de Sharm el-Sheikh os dirigentes do mundo inteiro na COP27, para, todos juntos, fingirem, mais uma vez, que se preocupam com o futuro dos povos que governam e a salvação do planeta», fim de citação.
E assim terminou mais uma COP, a vigésima sétima num país como o Egipto.
O que se conhece é muito pouco, dado que a comunicação social portuguesa está mais interessada num campeonato de pontapés na bola, nas disparatadas e ilusionistas palavras de Marcelo, nos arrufos entre Costas, e pouco ou nada num tema que devia preocupar globalmente a Humanidade.
Os delegados de quase 200 países na cúpula do clima COP27 aprovaram dois textos principais: uma declaração final e uma resolução sobre a compensação pelos danos causados pelas alterações climáticas sofridos por países vulneráveis.
Ou seja, apresentam em separado dois documentos que deviam estar num único, pois o texto das compensações é uma consequência e não pode nem deve ser entendido como um apêndice.
Ao concordarem em criar um fundo de “perdas e danos” destinado a ajudar países vulneráveis ​​a lidar com desastres climáticos e a reafirmação de perseguir a meta de manter o aquecimento global em apenas 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, uma vez mais os países ricos não abdicaram da sua postura de nada fazerem, ou fazerem muito pouco, para que as alterações climáticas deixem de se verificar.
Os textos aprovados são, mais uma vez, um conjunto de intenções.
Os textos não falam do corte das emissões de gases de efeito estufa que aquecem o planeta. Como também não mencionam a eliminação gradual de combustíveis fósseis, incluindo petróleo e gás. Poder-se-á dizer que os textos marcam pela primeira vez a intenção dos países e grupos, incluindo redutos de longa data como os Estados Unidos e a União Europeia, em estabelecer um hipotético fundo para países vulneráveis ​​a desastres climáticos agravados pela poluição desproporcionalmente produzida por nações ricas e industrializadas.
Só que um alto funcionário do governo Biden veio dizer isto: «os apoios não incluem uma reserva de meios financeiros de responsabilidade ou compensação». E em comentários públicos anteriores, o representante dos EUA à COP27, John Kerry, disse mesmo que perdas e danos não eram a mesma coisa que reparações climáticas. Será preciso dizer mais alguma coisa?
As nações desenvolvidas há muito que procuram evitar tais disposições pois poderiam ser confrontadas para uma responsabilidade legal e ações judiciais dos países que sofrem com as alterações climáticas. Mas há mais! Os detalhes sobre o tal fundo permanecem obscuros.
O texto deixa muitas dúvidas sobre quando será finalizado e operacionalizado, e como será financiado.
Esqueçam a tal tábua de salvação que alguns acreditam ser possível existir neste fundo de perdas e danos para famílias pobres cujas casas foram destruídas, agricultores cujos campos estão arruinados e ilhéus forçados a deixar as suas casas ancestrais.
Esqueçam!
O texto final não reflete a necessidade de eliminar gradualmente todos os combustíveis fósseis, condição essencial para assegurar um aquecimento não superior a 1,5° Celsius em relação à era pré-industrial. Até à COP28, tudo continuará igual e o planeta Terra a destruir-se por culpa de governantes que a todo custo querem salvar o sistema em que assenta o seu bem-estar até ao dia em que nenhum ser vivo o habitará. Uma COP28 a realizar nos Emirados Árabes Unidos. Mais uma organização que mostra como tais eventos não podem produzir resultados positivos.
Os dirigentes do mundo inteiro vão continuar a fingir que se preocupam com o futuro dos povos que governam e a salvação do planeta. Tudo à sombra dos dinheiros de certos países para esconderem a triste realidade de escravatura e o não cumprimento de todos os deveres para com os seus cidadãos.
Quem pode acreditar em medidas sérias para combater a situação em que o planeta se encontra tendo em conta a escolha dos locais para a realização de tais eventos?
Locais nada recomendáveis.
Sejamos honestos.
Mais uma vez, e infelizmente, esta COP27 e todos os países que nela participaram, também não estiveram à altura e não souberam defender o futuro da humanidade perante os interesses das grandes empresas de petróleo e gás. Não é à toa que a COP27 acolheu através das delegações de diversos países, mais de 600 lobistas de combustíveis fósseis. Será preciso dizer mais alguma coisa?
Tenham uma boa semana.