Hoje
comemora-se, em quase todos os países do mundo, o dia do trabalhador. Foi em
1889 que o Congresso Operário Internacional, reunido em Paris, decretou o 1º de
Maio, como o Dia Internacional dos Trabalhadores, um dia de luto e de luta.
Em
luto pela morte de dezenas de trabalhadores pela repressão policial realizada
sobre 500 mil manifestantes que reivindicavam a redução da jornada de trabalho
para oito horas, no dia 1 de Maio de 1886 em Chicago. Um dia de luta dado que
como há 116 anos o 1º de Maio mantém todo o seu significado e actualidade. E a
actualidade é deveras preocupante. Portugal, por exemplo, é o país da Europa
onde as desigualdades na distribuição dos rendimentos pelas famílias são das
mais elevadas. De acordo com um recente estudo da Fundação Francisco Manuel dos
Santos os 20 por cento mais ricos têm um rendimento seis vezes superior ao dos
20 por cento mais pobres. O risco de pobreza atinge os 48 por cento da
população. Uma em cada cinco pessoas é considerada pobre e uma em cada três
pessoas com mais de 65 anos vive só e é considerada pobre. Portugal é o país da
União Europeia com um salário mínimo mais próximo do salário médio, 557 euros. E
30% dos trabalhadores portugueses ganham menos de 600 euros mensais. Ou seja,
ter emprego em Portugal, hoje em dia não, não é sinónimo de sobreviver com
dignidade. Na área da saúde um médico de família tinha, em 2010, em média 145
utentes no Grande Porto e 757 no Alentejo Litoral. E no final de 2016 existiam
mais de 900 mil portugueses sem médico de família. Portugal passou do sexto
para o 4.º lugar nos países da OCDE que mais pagam para aceder à saúde. Em
relação ao índice de envelhecimento, o número de idosos por cada cem jovens
era, em 2011, de 179 no Alentejo e 118 na região de Lisboa com reformas de miséria
que apenas permitem que os idosos vegetem. Reformas que estão abaixo do limiar
da pobreza. Quem pode sobreviver com 260 euros mensais? Portugal é dos países
da Europa com maior precariedade laboral. A conclusão é do relatório da
Organização Internacional do Trabalho(OIT). Algumas das razões apontadas por
esta organização para o aumento da precariedade é o crescimento do sector dos
serviços face ao da indústria e agricultura, os avanços tecnológicos e as
alterações das estratégias organizacionais das empresas. Na Educação
referir que Portugal registou em 2016 a quarta taxa de abandono escolar mais
elevada da União Europeia, com 14% dos jovens entre os 18 e 24 anos, ou seja
jovens a frequentar o ensino superior ou médio, a deixarem prematuramente a
educação e a formação, segundo dados do Eurostat. Todo este triste cenário é
completado com promessas aos jovens a quem é oferecida uma mão vazia e outra
cheia de nada. Jovens que se sujeitam a empregos cujos ordenados estão muito
longe dos que as suas habilitações exigem. Os call center e os empregos nas
grandes superfícies proliferam criando ilusões com salários de miséria, a
desregulação dos horários e dispondo da vida dos jovens como escravos. Que
perspectivas para os trabalhadores portugueses? Se a emigração já foi terra
prometida. Como disse Nietzsche: «Não vos aconselho o trabalho, mas a luta. Não
vos aconselho a paz, mas a vitória! Seja o vosso trabalho uma luta! Seja a
vossa paz uma vitória!».
Tenham um bom dia.
(Crónica Rádio F - 1 de Maio 2017)