Podemos confiar a CGD ao Parlamento?
Indeferidos.
Os recursos nem sequer deram entrada a tempo e horas. Caixa Geral de Depósitos (CGD), Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e Banco de Portugal (BdP) vão mesmo ter de enviar para a Assembleia da República (AR) toda a informação pedida pelos deputados da comissão de inquérito. O objeto da comissão - avaliar a gestão do banco público desde o ano 2000 - é louvável. É essencial percebermos, cêntimo a cêntimo, como é que a CGD chegou ao ponto a que chegou. Como é que a Caixa, depois de ajudas várias e prejuízos encaixados pelo Orçamento do Estado, precisou de uma recapitalização de mais de cinco mil milhões de euros.
Agora, e não havendo do lado da CGD, da CMVM e do BdP mais nenhuma tentativa de travar o jogo na Justiça, vai chegar ao Parlamento um importante volume de informação bancária altamente sensível. O que se pede aos senhores deputados da CPI, o mínimo que se lhes pede neste caso, é que usem essa informação com cuidado. Da necessidade de transparência e fiscalização ao voyeurismo e ao uso de informação bancária como arma política vai um passo muito curto. A tentação vai ser grande. É responsabilidade dos senhores deputados resistir-lhe. Pessoalmente, dispenso listas de credores. Vivo bem sem nomes de empresas ou empresários divulgados por deputados para conquistar um ponto numa qualquer batalha política. Basta que me digam, no relatório final, que o governo X ou Y e que a administração da CGD W ou Z tiveram um comportamento condenável porque, comprovadamente, não agiram de acordo com os interesses da CGD. Há sinais de comportamento criminoso nestes documentos? Envie-se a informação e as conclusões para o Ministério Público e aguarde-se pelo tempo da Justiça.
Não me parece que as resistências de CGD, CMVM e BdP para entregar estes documentos à AR tenha motivação política e muito menos haverá aqui campo para teorias da conspiração. O DN conta hoje quantos dias demoram até que uma empresa veja resolvida uma dívida - ou outros casos - em tribunal. São demasiados e comparam mal com os nossos concorrentes em busca de investimento direto estrangeiro. A 29 de dezembro de 2015, investidores estrangeiros viram obrigações seniores do Novo Banco passar para o chamado banco mau, o BES. No fundo, senhores deputados, o que estou a querer dizer é que o país passava bem sem mais um tiro no pé.