Mesmo o impossível e, principalmente, os projectos que outros vão ter que pagar em prejuízo de uma equidade de tratamento!
Cá pela Guarda já avançam os devaneios eleitorais, para não falar dos erros de português que são mais que muitos....na directa proporção da imbecilidade!
Vamos lá cambada.... os «cidadões» (eheheheh!) esperam por vós.
Em ano de eleições, é preciso prometer tudo e um par de botas
A presidente do CDS-PP, que quis afirmar a sua liderança candidatando-se à autarquia de Lisboa, parece ter ficado verdadeiramente surpreendida com os risos que se fizeram ouvir em diversas bancadas, mas a proposta que fez no debate quinzenal cheira a campanha e, se cheira a campanha, tem poucas hipóteses de ser para levar a sério por quem quer que seja.
Cristas ainda não sabe, mas esta megalomania vai persegui-la durante a campanha. Os adversários políticos vão poder utilizar este episódio para a descredibilizar. É fatal, a própria não acredita muito naquilo que prometeu. Por isso, quis rematar a discussão com um slogan de campanha: "É ambicioso mas é realista, haja vontade." E haja uma campanha para fazer, é claro!
Hoje, a política não se faz com promessas de fontanários, rotundas, piscinas municipais e polidesportivos. Nem com estações de metro. Há muito mais para discutir. Por exemplo, a questão da mobilidade numa cidade altamente congestionada. Uma discussão a precisar de seriedade e profundidade. Foi daqui que partiu Assunção Cristas, sendo esta, aliás, uma das bandeiras de campanha. Mas então, porque não resistiu a líder do CDS e caiu na demagogia de propor o que sabe não ser possível fazer?
Terá sido por ver passar sem grande sentido crítico a promessa de alargar a rede de metro em Lisboa, feita em ano autárquico por um governo socialista para uma câmara governada por um socialista. É que também aqui houve quem prometesse tudo e um par de botas, para logo a seguir retirar o par de botas. Começaram por ser quatro novas estações, num investimento de 700 milhões de euros, e acabaram a ser apenas duas com um investimento de 216 milhões. Há uma campanha para fazer, é claro!
São rosas, senhor, são rosas. O plano apresentado por Cristas é, aliás, de uma dimensão idêntica ao plano que foi apresentada, em 2009, pela então secretária de Estado Ana Paula Vitorino, atual ministra do Mar, quando o governo socialista prometeu a construção de 29 novos quilómetros do metro até 2020. O investimento estimado era de 2,5 mil milhões de euros. Na altura também tínhamos eleições - as legislativas que o PS de Sócrates acabou por ganhar ao PSD de Ferreira Leite.
Descontando a demagogia com que meia-volta regressam as obras faraónicas, não lhes ocorre que investimentos desta magnitude feitos novamente em Lisboa ofendem o resto do país, com particular destaque para o interior, cada vez mais despovoado. Alimentam um circuito, investindo onde há votos, nada preocupados com distritos que elegem cada vez menos deputados porque têm cada vez menos eleitores.
Seja! Se há cada vez mais pessoas a viver no litoral, em particular nas cidades à volta de Lisboa, é preciso investir para melhorar a vida de centenas de milhares de trabalhadores que perdem horas na ida para o emprego e no regresso a casa. Mas se há uma hemorragia no interior, em ferida aberta já lá vão décadas, seria mais prudente tratarem primeiro a ferida. Não o fazendo, são cuidados paliativos aquilo em que estão a investir no litoral . De promessa em promessa, com prazos que nunca são cumpridos mesmo quando passam das palavras aos atos, no dia em que houver mais duas ou quatro ou 20 novas estações, já o problema é bastante mais grave. Não restará quase ninguém no interior do país e todos vão querer viver numa grande cidade à beira-mar plantada.
É, por tudo isto, que me parece que as 20 estações de metro pedidas por Assunção Cristas, mais do que uma piada que fez rir deputados das bancadas adversárias, é um tiro na sua própria credibilidade. Depois de uma crise brutal, que a líder do CDS ajudou a gerir, num governo que teve de aplicar a mais dura austeridade, aparecer agora a sugerir um megainvestimento de milhares de milhões de euros é de quem não quer ser levada a sério.
Pode parecer pouco o falhanço de Cristas, exagerada a ideia de que este número de campanha ainda acabará por sair muito caro à líder do CDS. A verdade é que ela se tinha afirmado como alguém preparada para a função, com propostas pragmáticas para os grandes temas em debate, diferenciadora em relação ao PSD. E agora? Agora avançou com uma proposta completamente irrealista, com um valor que não sabe determinar e um financiamento que haverá de cair do céu. Mesmo que houvesse esse dinheiro, era em Lisboa que o CDS o aplicava? Não há nada mais urgente e necessário para fazer no país? A candidata venceu a líder. Isso paga-se!