No
meio de uma crise que todos já perceberam que ameaça durar para sempre, há uma
coisa que é recorrente: a banca!
Ora
são notícias sobre o problema do BPI e da sua exposição à finança angolana, ora
são notícias sobre os lesados do BES que na melhor das hipóteses recuperarão
metade daquilo que investiram, ora são notícias sobre a situação na CGD. E por
aí fora. A banca está sempre presente. Em tudo.
Mesmo
quando se fala de Panama Papers, Swissleaks, Luxemburgo, zona franca da Madeira
ou de qualquer outra coisa que tenha a ver com um mundo que transcende o
quotidiano de 99% dos portugueses, a banca está sempre para a situação como a
igreja estava para a fé em séculos passados. A banca é a nova religião dos
tempos modernos. E os bispos são os mercados. Sem banca, o céu desabará sobre
as nossas cabeças.
Até
o mais ignorante dos cidadãos em questões económicas já percebeu hoje que a
raiz de todos os males vai sempre – de uma forma ou de outra – bater à banca!|
De facto, é hoje consensual que não foram os povos que andaram a viver acima
das suas possibilidades, foram os políticos e a banca quem criou uma sensação
coletiva de falsa riqueza para animar ao voto e à permanência no poder. O que a
política queria, a banca fazia. Ou vice-versa.
A
banca foi o meio encontrado pelos políticos para convencerem os povos de que
viviam ainda numa democracia política e económica. Por isso é com a maior
desconfiança natural que encaro qualquer proposta de políticos para resolver
problemas da banca. A recente ideia de criar um banco mau para absorver – de
uma vez por todas – tudo o que é problema da banca, merece-me as maiores
reservas.
Costuma
dizer-se que gato escaldado de água fria tem medo. No caso presente o gato tem
medo mas é da água a ferver que ainda está para vir. Ninguém explica, tintim
por tintim, que parte de mais esta brilhante proposta vai no fim recair sobre
os contribuintes. E é isso que me preocupa.
Os
contribuintes pagam sempre. Ou pagam diretamente através dos impostos, ou pagam
indiretamente através do engordar dos juros da dívida pública, quando esta
atinge valores estratosféricos devidos às garantias dos Estados para salvarem
bancos.
Os
bancos transformaram-se no maior negócio mafioso de todos os tempos. E,
voltando à religião, nem sequer são necessários 10 mandamentos. Basta um. E ele
é “quando houver lucros, quem ganha são os acionistas, quando houver prejuízos,
quem paga é o zé-papalvo”.
Tal
mandamento é tão verdadeiro que nunca vi um banqueiro ser sancionado por ter
permitido créditos de duvidosa cobrança a grandes devedores que por
coincidência têm sempre contas num qualquer offshore. É mais fácil um cego
ganhar um concurso de tiro do que ouvir um banqueiro mafioso confessar que
afinal é um ladrão. Aliás, os banqueiros são tão deficientes quanto os cegos,
sofrem de amnésia e nunca se lembram de nada!
O
negócio, agora, é dar outro nome ao caixote de lixo dos bancos. Antigamente
chamavam-lhes “sociedades de recuperação de crédito”. Quem não se recorda de
uma coisa chamada Finangeste, criada nos anos 80 para limpar artificialmente o
balanço dos bancos e permitir a sua privatização nas melhores condições de
marketing político? Hoje, porque é preciso recriar a ideia de um mundo novo,
chamam a isso um “banco mau”…
Eu
acho que maus são os banqueiros e os políticos que cozinharam tudo isto. E, já
agora, a parte substancial do nosso povinho que durante décadas acreditou neste
sistema, votando em conformidade nos partidos do costume.
Se
houvesse justiça no mundo, seria esse povo quem, em coerência, teria agora de
pagar do seu bolso todo este forró, desonerando-me de responsabilidades, a mim
e à minoria que nunca acreditou neste circo. Mas como a justiça é inversamente
proporcional à realidade, preparem-se os ouvintes para, em linguagem popular,
“arrotar mais uma vez”. Banqueiros e políticos agradecem.
Bancos maus aparte,
muito bom dia para todos.
(Crónica Rádio F - 18 de Abril de 2016)