É
uma evidência para os munícipes minimamente atentos que Álvaro Amaro deu já
início à pré-campanha eleitoral, visando a sua reeleição. De facto, sucedem-se
as idas às freguesias pelos motivos mais comezinhos. A intenção é a de agradar
e de criar a todo o custo a ideia política de que se tem obra feita. O
marketing é tão manifesto que me divido entre sentimentos contraditórios. De um
lado, pontua o ridículo de – por exemplo – um presidente de Câmara se prestar
ao papel de subscritor de protocolos para, pasme-se, aumentar um cemitério! Isso
mesmo, aumentar um cemitério! Do outro, não posso deixar de tirar o chapéu a
Álvaro Amaro pelo seu sentido de oportunidade e pela sua falta de escrúpulos
políticos. Na verdade, Álvaro Amaro, que fez tanto pela Guarda como eu algum
dia fiz, sei lá, por Madrid, vai conseguindo passar a mensagem de uma
presidência bem mexidinha, tomando-nos certamente por mais parvos do que
realmente somos.
Álvaro Amaro, o campeão das festas e
foguetórios, homem consabidamente bem amigo de seu filho e dos amigos dele, não
resistiu a fazer acompanhar o tal protocolo cemiterial por mais uma sessão de
comes e bebes. As circunstâncias eram – pelos vistos – as adequadas à comezaina,
e já agora, os figurantes também! Não posso dizer que ainda esteja por
descobrir a razão para haver sempre gente deste quilate que se presta a estas
tristes figuras, mas abstenho-me de vir para aqui dar pérolas a porcos. É que pérolas
não tenho e porcos já há infelizmente que chegue…
Como
um cemitério nunca vem só, ou antes, como uma festa – que para Álvaro Amaro
será quase a mesma coisa – nunca vem só, Álvaro Amaro meteu os pés ao caminho
para fazer crer que é homem de meter mãos à obra, e vai daí, assinou novo
protocolo, desta feita em Vila Fernando e para a requalificação de uma estrada.
Se também houve comezaina ou não, isso é coisa que já não sei, que isto de
comezainas em tempo de crise já não é como noutros tempos e há que dar atenção
à saúde de quem anda mal habituado.
Álvaro
Amaro distribui protocolos e papas, para não dizer coisa pior, como D. Sancho
distribuía um dia forais. Ou melhor dito, D. Sancho há-de dar voltas no túmulo
ao perceber finalmente como se faz a adequada gestão destas coisas, com
salgadinhos e moscatéis à mistura.
Mas
desenganem-se aqueles que sejam tentados a pensar que Álvaro Amaro é um
político situado entre o cromo e o buçal. Nada mais longe da verdade! Estamos a
falar de alguém cuja inteligência estratégica faria inveja a um Napoleão e cuja
seriedade e coerência na ação transformariam um vulgar Zé do Telhado num dos
príncipes da Ínclita Geração. Álvaro Amaro é de facto o mais brilhante político
que algum dia passou pela Guarda. E pouco dado a distrair-se com pormenores. É
por isso, o mais competente!
De
facto, o que chamar a um homem defensor dos ajustes diretos que consegue pegar
num concurso público de 1,5 milhões de euros para a requalificação de cinco
estradas municipais e transformá-lo em cinco pequenos concursos públicos
independentes uns dos outros para a construção das mesmas estradas pelo preço
unitário de 350 mil euros? Não percebem? E se eu vos disser que havendo cinco
concursos de 350 mil em vez de um concurso de 1 milhão e meio o Tribunal de
Contas já não pode meter o bedelho no assunto? Ou será preciso outro protocolo
comicial com beberete para que os ouvintes vislumbrem a lucidez estratégica do
nosso edil?
E
se eu vos disser, para terminar, que ele é também o mais culto do mundo e
arredores? Ou desconhecem que a ornamentação da rotunda do Rio Diz foi entregue
por ajuste direto a uma artista que faz parte do círculo de relações do poder
de Coimbra, centrado na esposa de Álvaro Amaro, a qual por sua vez tem
responsabilidades de chefia na Direção Regional de Cultura do Centro? E que
vocês, ouvintes, é que afinal não percebem nada disto nem a sorte que temos em
ter Álvaro Amaro a comandar as nossas vidas?
Como
um dia disse Gabriel Garcia Márquez, «afastem-se vacas, que a vida é curta».
Tenham
um bom dia.
(Crónica rádio F – 11 de Abril de 2016)