O
recente episódio do abate de árvores na avenida de Salamanca não passa de mais
um exemplo do costumeiro desprezo do atual presidente da Câmara Municipal da Guarda
por questões ambientais e pelos guardenses. Pode criticar-se a falta de
justificação técnica para o abate das árvores, a sua substituição por árvores
de muito menor porte e em menor número, até a sua estranha colocação em parte
da atual faixa de rodagem ou qualquer outro dos inúmeros erros cometidos por
Álvaro Amaro em todo este processo. Mas convém não confundirmos causa com
consequência.
Esta
novela das árvores faz parte de um padrão e é apenas a sua consequência. Álvaro
Amaro é assim mesmo. Pertence àquela velha guarda de políticos que acham que o
facto de ganharem uma eleição lhes concede o direito de fazerem tudo como quiserem,
onde quiserem e quando quiserem.
Não
foi por acaso que Álvaro Amaro recorreu à hipocrisia, convidando, depois de
tudo o que se passou, os munícipes a plantarem uma árvore no mesmo local aonde
as havia mandado cortar. Ao nosso presidente não basta fazer mal, é preciso
humilhar aqueles que lho recordem.
Para
compreender a insensibilidade do nosso presidente para com as questões do
ambiente e da qualidade de vida, basta olharmos para o parque da cidade, onde
por sinal também se vão abatendo umas árvores. Em tempos existiu ali um
circuito de manutenção desportiva que os cidadãos da Guarda utilizavam com
prazer. Hoje, esse espaço encontra-se completamente desprezado. Até o lago, que
em tempos acolhia diversos animais aquáticos e convidava ao passeio em família,
se encontra agora entulhado e nauseabundo.
Os
dois pavilhões existentes naquele parque acolheram em tempos todo o tipo de
exposições e outros eventos. Na atualidade um deles foi transformado em café,
note-se, a menos de 100 metros de uma escola, enquanto o outro se encontra ao
serviço de um cal-center, depois de todas as verbas que os contribuintes foram
obrigados a pagar, para que o mesmo fosse instalado. Logo ao lado do parque da
cidade e junto ao estádio municipal, tropeçamos nas ruínas do edifício das
antigas piscinas! Uma calamidade. Um autêntico perigo público e, um péssimo
cartaz para os poucos turistas que recorrem ao parque de campismo. E sobretudo
uma falta de respeito para a saúde dos habitantes da Guarda e, em especial,
para os que habitam o bairro das Lameirinhas. Um total abandono que demonstra a
ausência de preocupação da edilidade com o património.
Por
fim, mas não o melhor, o estado lastimoso em que se encontra aquilo que era
suposto ser um parque de campismo. Mais um espaço que não se modernizou, pouco
acolhedor, semiabandonado, mal equipado e desprimoroso para uma cidade que se preze.
Decididamente,
este, tal como os executivos anteriores, não sabe que uma cidade educa. Esta
nossa cidade da Guarda poderia e deveria educar para a cidadania e para
aumentar a nossa autoestima. E isso não se faz com festas e festarolas. Faz-se
com organização, transparência, democracia e trabalho. E faz-se sobretudo
envolvendo os cidadãos, todos os cidadãos, aqueles que votaram em nós ou não.
A
própria Agência Portuguesa do Ambiente considera, e cito, que “A promoção e a cidadania ambiental visam
promover o exercício de boas práticas e a participação pública, individual e
coletiva para as questões do ambiente e do desenvolvimento sustentável(…)”.
Nada mais distante daquilo que tem feito Álvaro Amaro.
Em
tempos, Miguel de Unamuno, que até tem nome de rua na cidade, caracterizou a Guarda como uma cidade
medieval. Onde os despejos ainda eram feitos para a rua. Uma cidade escura e
sombria. Hoje, felizmente, os despejos já não se fazem para a rua. E a única
coisa medieval que ainda se vai vislumbrando por aqui, parece ser a mentalidade
do nosso principal edil.
Tenham um muito bom dia.
(Crónica na rádio F - 04 de Abril de 2016)