SONETO
DE TODAS AS PUTAS
Não
lamentes, ó Nize, o teu estado;
Puta
tem sido muita gente boa;
Putíssimas
fidalgas tem Lisboa,
Milhões
de vezes putas têm reinado;
Dido
foi puta, e puta de um soldado;
Cleópatra
por puta alcançou a coroa;
Tu,
Lucrécia, com toda a tua proa,
O
teu cono não passa por honrado: (cona)
Essa
da Rússia imperatriz famosa,
Que
ainda há pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre
mil piças expirou vaidosa;
Todas
no mundo dão a sua greta;
Não
fiques pois, ó Nize, duvidosa
Que
isso de virgem e honra é tudo peta.
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Em
Bocage, a transgressão era-lhe natural: libertino assumido; anticlerical
convicto; irreverente; crítico das elites literárias e institucionais;
apologista dos ideais republicanos e agitador de consciências nos cafés e
botequins, é pois perfeitamente normal que tenha sido preso, a dada altura, por
ser considerado subversivo e perigoso para a sociedade.
Bocage
é, hoje em dia, considerado como o maior poeta do arcadismo português, isto é,
do neoclassicismo.
Ironia
do destino!
Como
te havias de rir desta corja que hoje te venera e que quando eras vivo te
expulsava e repudiava de todos os grémios de poetas, devido ao teu
comportamento!
Como
se um poeta, que verdadeiramente o é, tem, alguma vez de ser lambe botas de
eunucos e pedantes.
TU,
ÉS E SERÁS SEMPRE LEMBRADO PELO POVO!
O
POVO QUE NUNCA SE ESQUECERÁ DA FORMA COMO PARODIAVAS E CRITICAVAS CERTA
ESCUMALHA, QUE AINDA POR CÁ ANDA, E DEPOIS IAS LER OS POEMAS PARA AS PRAÇAS
PÚBLICAS E OS DISTRIBUÍAS ÀS PORTAS DAS IGREJAS, MESMO À SAÍDA DA MISSA!
Panfletário e revoltado quanto baste!