terça-feira, setembro 22, 2015

(Re)Lendo


 
SONETO DE TODAS AS PUTAS
 

Não lamentes, ó Nize, o teu estado;

Puta tem sido muita gente boa;

Putíssimas fidalgas tem Lisboa,

Milhões de vezes putas têm reinado;
 

Dido foi puta, e puta de um soldado;

Cleópatra por puta alcançou a coroa;

Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,

O teu cono não passa por honrado: (cona)

 

Essa da Rússia imperatriz famosa,

Que ainda há pouco morreu (diz a Gazeta)

Entre mil piças expirou vaidosa;

Todas no mundo dão a sua greta;

 

Não fiques pois, ó Nize, duvidosa

Que isso de virgem e honra é tudo peta.
 
 
Manuel Maria Barbosa du Bocage 
 
Em Bocage, a transgressão era-lhe natural: libertino assumido; anticlerical convicto; irreverente; crítico das elites literárias e institucionais; apologista dos ideais republicanos e agitador de consciências nos cafés e botequins, é pois perfeitamente normal que tenha sido preso, a dada altura, por ser considerado subversivo e perigoso para a sociedade.
Bocage é, hoje em dia, considerado como o maior poeta do arcadismo português, isto é, do neoclassicismo.
Ironia do destino!
Como te havias de rir desta corja que hoje te venera e que quando eras vivo te expulsava e repudiava de todos os grémios de poetas, devido ao teu comportamento!
Como se um poeta, que verdadeiramente o é, tem, alguma vez de ser lambe botas de eunucos e pedantes.
TU, ÉS E SERÁS SEMPRE LEMBRADO PELO POVO!
O POVO QUE NUNCA SE ESQUECERÁ DA FORMA COMO PARODIAVAS E CRITICAVAS CERTA ESCUMALHA, QUE AINDA POR CÁ ANDA, E DEPOIS IAS LER OS POEMAS PARA AS PRAÇAS PÚBLICAS E OS DISTRIBUÍAS ÀS PORTAS DAS IGREJAS, MESMO À SAÍDA DA MISSA!
Panfletário e revoltado quanto baste!