«Talvez por ser tão exótica e inesperada, esta
notícia passou praticamente despercebida. O Ministério da Educação decidiu
entregar 12 milhões de euros adicionais aos colégios privados, que se somam
assim aos 253,7 milhões inscritos no Orçamento de Estado. Isto é, um acréscimo
extemporâneo de quase 5% em relação à dotação inicialmente aprovada e que, em si
mesma, já contrastava com o golpe colossal desferido na escola pública, expresso
na redução orçamental de 18% face à execução de 2011.
Esta oferenda é
particularmente bizarra por duas razões. Desde logo, porque se torna tanto mais
incompreensível quanto se verificou uma diminuição do número de alunos do ensino
privado apoiados em 2012 (a que acresce o facto de a subvenção estatal por turma
ter passado, com este governo, de
80 para 85 mil euros). E, em segundo lugar, porque esta decisão contraria de
modo reforçado o que foi explicitamente acordado com a troika, em Maio do ano
passado, no memorando
de entendimento. Isto é, a «redução e racionalização das transferências
para escolas particulares com acordos de associação».
Aliás, a
medida é de tal modo inusitada que apanhou de surpresa a própria Associação de
Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (que se limita a
«acreditar» que estes montantes visem financiar «os contratos de
associação, patrocínio, cooperação e desenvolvimento e os alunos
individualmente»). E suscita, como é óbvio, as maiores suspeitas quanto aos
seus verdadeiros objectivos. De facto, é sabido que, em resultado das
dificuldades económicas impostas pela austeridade, muitos pais decidiram não
renovar as matriculas dos seus filhos nas escolas privadas ou retirá-los
entretanto dos colégios que começaram por frequentar, no início do ano lectivo,
com naturais impactos para as receitas destas instituições.
O que poderá
estar a suceder é pois, no fundo, uma transferência de verbas susceptível de
configurar os primeiros passos de um processo de implementação, «à paisana», do
cheque-ensino. Isto é, com duas diferenças, irrelevantes, face ao modelo em que
este convencionalmente assenta: os alunos não escolhem as escolas (mas apenas
porque já as escolheram, o que vai dar no mesmo); e não são munidos com um
voucher que entregam no estabelecimento de ensino que frequentam
(bastando que as suas propinas sejam reduzidas ou não aumentem, em resultado da
transferência de verbas directamente do Estado para as instituições, o que
também vai dar no mesmo). E tudo isto contornando a discussão pública e o
escrutínio parlamentar que a implementação explicita do «cheque-ensino»
naturalmente exigiria.» Ladrões de Bicicletas.
Em contraponto com o facto de algumas autarquias não terem dinheiro para as refeições dos alunos, porque o Ministério da Educação não paga o que deve.
Enquanto há alunos a abandonar os estudos por falta de pagamento dos apoios sociais, nomeadamente, bolsas.
Eis senão quando há MILHÕES para o ensino privado!!!