Na última década, pelo menos 1633 pessoas morreram em trabalho.
Ontem, naquela famigerada e brutal barragem do Tua morreram mais 3 operários.
Só me lembro, neste momento, do poema do Vinicius de Morais.
Operário em construção!!!
(...)
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia
sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava
atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja
preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do
patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois
pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a
noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua
resolução.
Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer
coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma
preocupação
- "Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o
operário
E ao dizer isso sorria.
Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito
cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira
agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi
perguntado
O operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se
seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício
em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu
sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.
Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o
patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da
construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E
apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse
poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem
bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto,
tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O
que te faz dizer não.
Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o
operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das
estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que
fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente
havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! -
disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
(...)
A corja que nos ROUBA esquece-se, sempre se esqueceu......que ao operário tudo lhe é devido!!!