quinta-feira, novembro 19, 2009

Tertúlia

António Delgado, Escultor e Professor Doutor na Universidade da Beira Interior, Director do Mestrado em Artes Visuais e Coordenador do programa Erasmus, foi o primeiro convidado de um ciclo de tertúlias “O Tempo das Cerejas”, a realizar periodicamente pelo Bloco de Esquerda da Guarda.


António Delgado veio falar sobre “Público o Privado: A dimensão política e Pessoal do Eu” apresentando o Eu como “viajante da vida e observador das realidades em que está inserido, na sua família, na sua rua, na sua cidade, no seu país, na sua cultura.” O Eu crítico é, então, o Eu de uma cultura que está fora dela, desapaixonadamente faz, inevitavelmente, juízos de fora para dentro da sua própria cultura. Afirmando, António Delgado, que “quem vem de fora faz-nos ver o que somos.”

O Eu é um espaço psicológico, afectivo, emocional e cultural, uma gestão das circunstâncias onde se adquirem os nossos valores e princípios, e que nos dá a identidade.

Esse Eu, nas palavras de Delgado, quando se sobrepõe ao Eu de todos os outros, anula o Eu Público, que só vem à existência quando resulta de cada Eu estar ao serviço de cada um dos outros e de todos os EUs. Integrado no espaço público o Eu passa a ser o Eu Político, o Eu em presenças dos seus ideais. No embate entre o Eu e o Eu político ocorre a negociação constante entre o desejo e a repressão do desejo, no domínio político os desejos são criados e no domínio pessoal a impossibilidade de os realizar. A frustração do Eu individual pode ser a frustração do Eu colectivo, instalando-se no vazio e na angústia do que somos perante a sociedade. “Os valores eternos deixaram de o ser, deixou de haver a autoria do pensamento, hoje não temos mais a paternidade do saber, perdemos o rasto de quem construiu o pensamento” disse Delgado. O espaço público deixa de existir é apenas uma passagem de ar ou uma encenação nos media.

António Delgado terminou a sua intervenção explorando o conceito da “economia da atenção”, no domínio político ocorre a necessidade de mostrar quem é o líder político e quem está a criticar o líder político, resultando daqui os combates pela atenção dos EUs, onde se gere a vida dentro do espaço público.

Nuno Leocádio deputado na Assembleia Municipal da Guarda, na sequência das palavras de António Delgado, associou aos problemas económicos e sociais dos familiares, demitidos da responsabilidade da educação dos filhos, e a uma escola que não mais reponde às suas expectativas, por não ter acompanhado a evolução da sociedade, a dificuldades na formação da identidade das crianças e dos jovens. A escola, e principalmente a universidade, continua a ser um espaço se citação de teorias das autoridades nas diversas matérias, e não um espaço em que o individuo aprende a construir o seu próprio projecto social e a construir o seu próprio EU.