Dias
após dia, quer «eles» queiram ou não, o mundo pula e avança...
O
senso comum resultante do conhecimento vulgar, obtido por crenças e falsas
aparências criam os obstáculos epistemológicos para o progresso científico.
É
o caso recente de uma sonda feita por humanos conseguir passar perto,
relativamente perto, de Plutão.
E,
se só por si esse facto já seria uma façanha histórica da Humanidade que dizer
dos cálculos newtonianos para calcular com uma precisão milimétrica o ponto no
espaço onde a sonda iria encontrar o planeta gelado.
BRILHANTE!
É
bom que saiba que há nove anos, quando a sonda saiu da Terra, o lugar que o
nosso planeta ocupava no espaço não é o mesmo que ocupa hoje. E, que o lugar
que Plutão ocupa hoje também difere do lugar que há 9 anos ocupava.
BRILHANTE!
Mas
há mais… se tudo isto já fosse pouco!
A
sonda não foi directamente a Plutão, «passou» por Júpiter para «receber»
assistência gravitacional.
O
que é isto?
É
quando uma nave passa perto de um grande corpo celeste, como um planeta ou uma
estrela, e passa dentro de uma "janela" (intervalo) orbital que lhe
permite não só corrigir a órbita (de tal forma que fique com o "caminho
livre" em direcção ao seu destino – neste caso, Plutão), mas sobretudo
receber um impulso adicional, sem precisar de combustível extra (são as
maravilhas da gravidade), para ter "força" suficiente para chegar ao
destino na altura pretendida.
BRILHANTE!
Sem
isto, a New Horizons nunca chegaria a Plutão, não só porque a direcção seria
diferente, mas até porque, supondo que a direcção seria a mesma, chegaria ao
ponto onde Plutão está neste momento com anos de atraso e por isso já não
passaria perto dele.
Sem
tudo isto a sonda seria atirada para o vazio cósmico. É a matemática a dizer
aos humanos: sem mim, não são nada.
BRILHANTE!
Esta
foi a sonda com maior velocidade de escape (em relação à Terra) que alguma vez
enviamos para o sistema solar exterior: 58.536 km/h. O problema do espaço,
neste caso do sistema solar, é que é muito grande. E mesmo a velocidades
enormíssimas, a sonda precisou de nove anos e meio para lá chegar.
Na
verdade, mesmo que a sonda viajasse à velocidade-limite da luz, mesmo assim
demoraria mais de quatro horas a chegar a Plutão (como comparação, a luz do Sol
demora oito minutos a chegar à Terra). Esta sonda é tão rápida que demorou
somente nove horas a chegar à órbita lunar (lembrar, por exemplo, que as
missões Apollo demoraram três dias para chegar lá).
Neste
momento, a sonda está a recolher dados, sobretudo da superfície de Plutão, da
sua geologia e morfologia, e da composição da sua atmosfera. Infelizmente,
ainda vai demorar a receberemos os dados. Por dois motivos:
-
porque a sonda não consegue receber e enviar os dados simultaneamente (despenderia
muita energia e espaço em disco, o que a colocaria em modo de segurança, como
aconteceu há dias atrás);
-
porque vai levar tempo até que os dados nos cheguem devido à distância a que a
sonda está.
Cientificamente,
o maior interesse está nos dados geológicos e atmosféricos.
Definitivamente
o senso comum vai dando lugar ao conhecimento científico, mais profundo e
justificado.
Mas
há mais…
A sonda vai passar perto de Plutão, mas não vai ficar na sua órbita (para
tal, teria que despender bastante combustível, para travagens, mudanças de
órbita, etc., que não tem).
Talvez
daqui a 200 anos (devido à excêntrica órbita de Plutão) possamos ter uma sonda
a orbitar Plutão.
A sonda ao passar pelo sistema plutoniano vai
embrenhar-se na escuridão do sistema solar exterior, como fizeram as duas
Voyager e as duas Pioneer. Com sorte poderá ainda passar perto de três pequenos
objetos da Cintura de Kuiper com o pouco combustível para ajustes de trajetória
de órbita que ainda possui. Mas isso será somente para 2019.
Finalmente,
em 2047, deverá chegar à heliopausa, onde o vento solar passa a ter uma
influência menor que o meio interestelar, onde já se encontra a Voyager 1 que
partiu da Terra em 1977 – no entanto, a Voyager estará numa direcção diferente
da New Horizons.
Tudo
isto, é um avanço científico de uma grandeza, que porventura muitos acéfalos
nunca se aperceberão da sua amplitude.
«Ouvi, que não vereis com vãs façanhas,
Fantásticas, fingidas, mentirosas,
Louvar os vossos, como nas estranhas
Musas, de engrandecer-se desejosas:
As verdadeiras vossas são tamanhas
Que excedem as sonhadas, fabulosas,
Que excedem Rodamonte e o vão Rugeiro
E
Orlando, inda que fora verdadeiro. » - Os Lusíadas de Luís de
Camões.