quarta-feira, abril 30, 2025

Ponto de vista

No dia 23 de abril de 2025 realizou-se mais uma Assembleia Municipal da Guarda. Com um atraso de mais de 30 minutos, deu-se início à sessão. Verificado o quórum, receberam os bons-dias todas e todos, com especial relevo as meninas da língua gestual. Meninas da língua gestual? Senhor presidente, que linguagem é essa? Foi o senhor que recentemente disse que havia que se ter cuidado com o que se diz e se escreve. Meninas da língua gestual pode ser terminologia usada em contexto de taberna, nunca numa Assembleia Municipal.

Seria fastidioso e cansativo para quem nos ouve falar de todos os assuntos apresentados. Muitos deles bem longe da realidade do concelho da Guarda. Escolhi apenas um tema que mostra bem como funciona o nosso executivo camarário.

Trago-vos a minha análise da intervenção do senhor José Rocha da Silva, habitante da freguesia de Famalicão da Serra. Importa desde já esclarecer que não conheço o senhor e nunca, julgo eu, tive qualquer conversa com ele. Apenas ouvi, com toda a atenção, a sua intervenção no período destinado ao público. E bastou-me.

Resumido, o tal senhor José Rocha da Silva vive numa quinta com acesso à freguesia por meio de um caminho danificado pelos incêndios de 2022. O caminho tem uma extensão de um pouco mais de 3km e serve outros cidadãos que por ali vivem. A habitação do tal senhor fica, segundo palavras do mesmo, sensivelmente a meio do dito caminho. Ora, no âmbito da intervenção das infraestruturas danificadas pelos incêndios de 2022, a obra nesse caminho iniciou-se em 3 de junho de 2024. Mas, pasme-se, o cidadão em causa só tomou conhecimento do início das obras um dia útil antes de elas iniciarem-se, pela boca do presidente da junta da freguesia.

O caminho em causa era, até ao início das ditas obras, facilmente transitável por qualquer viatura até à quinta do munícipe em causa. A partir da sua quinta só veículos todo-o-terreno podiam circular, uma vez que o caminho se encontrava bastante degradado.

Foi com natural espanto que o tal senhor José Rocha verificou que as obras se iniciaram na parte transitável do caminho. O senhor presidente da junta de Famalicão da Serra afirmou não ter nada a ver com a obra, que a programação não tinha sido feita por ele, e que a Câmara da Guarda era a responsável pela obra. Ora, uma vez que estava destinado que todo o caminho ia ser intervencionado, esperava-se com naturalidade que as obras se iniciassem na parte intransitável. Assim não aconteceu.

O senhor José Rocha tentou falar com o responsável pela obra e com os serviços técnicos da câmara, sem sucesso. Em síntese, o senhor José Rocha ficou em prisão domiciliária durante um mês, o tempo de duraram as tais pseudo-obras. Na prática, menos de metade do caminho foi alvo de intervenção, e isso aconteceu na parte que menos necessitava dela. Dos mais de 3km de caminho, só 600 metros foram alvo de intervenção.

Sucederam-se pedidos de esclarecimento mediante correio eletrónico para a Câmara da Guarda, mas o silêncio manteve-se por parte da edilidade. Chegou-se ao ponto de se apresentar ao tal senhor José Rocha um formulário, onde eram exigidos todos os dados pessoais e mais alguns, como é hábito quando se procura conhecer o andamento de certos assuntos conduzidos pelo atual executivo camarário. Tal como é habitual, quando a resposta acontece, passar-se à fase de refúgio no argumento da proteção dos dados pessoais dos intervenientes. Mais uma vez o dito formulário foi apenas e tão-só uma forma de o cidadão perder tempo.

Por fim, a cereja no topo do bolo. Segundo palavras do referido senhor, o caminho alvo de intervenção, onde antes se podia circular, está agora intransitável devido à péssima qualidade dos materiais utilizados. Ficou o apelo do munícipe para que se investigue o que sucedeu e que se dê resposta pronta e esclarecedora aos cidadãos, sem subterfúgios ou manobras dilatórias tão habituais neste executivo camarário.

Por fim, não posso deixar de fazer referência à morte do Papa Francisco. Um homem bom deixou-nos, infelizmente. Que as suas ideias não se percam. Que haja continuidade nas reformas que a Igreja Católica Apostólica Romana urgentemente necessita.

E termino esta minha crónica com uma das muitas frases célebres do Papa Francisco que tem tudo a ver com intervenção do aludido cidadão José Rocha na Assembleia Municipal da Guarda de 23 de abril de 2025.

“Não devemos ter medo de nos sentirmos inquietos, de pensar que tudo o que possamos fazer não basta. Neste sentido e numa justa medida, ser descontente é um bom antídoto contra a presunção da autossuficiência e do narcisismo”.

Tenham uma excelente semana.