Inventaram
para cada dia a comemoração de coisa nenhuma!
Uns
servem para saciar o comércio, dia dos namorados, dia do pai, dia da mãe, dia
dos irmãos e, eu sei lá que mais!
Outros são dias ditos de festa… dia de Natal,
dia da Liberdade, dia do corpo de Deus, como se um deus tivesse corpo!
E
depois há os das folias importadas, o das bruxas, o do Carnaval como se o pagão
não fosse, por ele próprio, o do Entrudo - o Chocalheiro!
Hoje,
1 de Junho, dizem dia da criança!
Não
quero comemorar!
Tenho esse direito!
Não por mim, mas por todas as crianças que
morrem neste mundo cão vítimas da ganância e prepotência de uns covardes
adultos. Essas sim, nunca foram crianças!
Cada vez que ouço alguém falar do dia
da criança vem-me à memória a imagem da criança Síria morta numa qualquer
praia.
Em memória dessa e de tantas outras crianças lembro o poema do Carlos de
Oliveira:
Acusam-me
de Mágoa e Desalento
Acusam-me
de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.
Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.
Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.
A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.
Carlos de Oliveira, in 'Mãe Pobre'
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.
Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.
Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.
A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.
Carlos de Oliveira, in 'Mãe Pobre'