A UTAO diz que há um desvio orçamental na receita - na cobrança de impostos - na ordem dos 660
milhões de euros, que põe em causa o défice de 3% fixado no orçamento, que o
governo jura que é para cumprir.
A oposição, em força, quase que em jeito de
festa correu a proclamar bem alto que já não vai haver nenhuma devolução da
sobretaxa de IRS. Correu a agitar a mesmíssima bandeira que o governo, e a
maioria, tinham agitado a semana passada. O foguetório poderá não ter sido o
mesmo, mas não foi lá muito diferente...
O que não deixa de fazer sentido, e de ser até
coerente com uma certa lógica: é que o governo preparou a cenoura eleitoral da
sobretaxa de IRS, com um simulador na página das Finanças e tudo, para
apresentar em paralelo com as contas da execução orçamental do primeiro
semestre. Se o anunciado bom andamento da cobrança fiscal permitia ao governo
prometer a devolução - como se tivesse a devolver alguma
coisa, como se não fosse apenas passar a tirar-nos menos um bocadinho - de
parte da sobretaxa, naturalmente que o desmentido desse bom andamento pode
permitir à oposição desmentir a devolução.
Por isso, por achar que há aí uma certa
coerência lógica, não é pelos foguetes que a oposição lançou que o tema, na
minha modesta opinião, merece atenção. Não gosto que se festeje o que não há para
festejar. Tal como não havia festa nenhuma para fazer pelo simples anúncio de,
num futuro mais ou menos próximo, porventura, eventualmente, nos poderem vir a
passar a cobrar menos um bocadinho do que nos cobram em excesso.
Extraordinariamente, e por isso indevidamente. Só há pantominice...
E a pantominice só tem de ser desmascarada, e nunca festejada. O que não é
exactamente o que toda a oposição acaba de fazer.
O que nesta história me prendeu a atenção é mais
uma vez o Presidente da República. Lembram-se certamente que Cavaco não quis perder a boleia
da pantominice. Que não se limitou a
dizer que é "uma boa notícia", foi mais longe e puxou dos
galões. Segundo ele próprio, e bem à sua maneira, previra que, ao fim do
segundo trimestre deste ano, "a evolução das finanças públicas apontava
para o cumprimento de uma défice não superior a 3% e que a evolução das
receitas fiscais do IRS e do IVA podia permitir alguma devolução da sobretaxa
extraordinária que os portugueses têm vindo a pagar".
Depois da conhecida pontaria que o senhor que nunca se engana(va) tem para
estas coisas, era mesmo uma questão de tempo. Só foi mais depressa do que se
poderia esperar...
O tempo é um grande juíz, diz o povo. Implacável
com Cavaco, diria eu!
(retirado daqui)