Havia
num partido um homem, que era demasiado medroso e cobarde para, alguma vez,
contradizer os seus camaradas: empregavam-no para todos os serviços, exigiam
tudo dele, porque ele tinha mais medo da má opinião dos seus camaradas que da morte;
era um lamentável espírito fraco.
Eles reconheceram isso e fizeram dele, em
virtude das circunstâncias mencionadas, um herói e, por fim, até um mártir.
Embora o cobarde, interiormente, dissesse sempre não, com os lábios pronunciava
sempre sim, mesmo já no cadafalso, ao morrer pelas ideias do seu partido: é
que, ao lado dele, estava um dos seus velhos camaradas, que o tiranizava tanto
pela palavra e o olhar, que ele sofreu a morte realmente da maneira mais
decente e, desde então, é homenageado como mártir e grande personalidade.
Friedrich Nietzsche, in 'Humano, Demasiado Humano'
Friedrich Nietzsche, in 'Humano, Demasiado Humano'