«É mais difícil ser livre do que puxar a uma carroça.
Isto é tão evidente que receio ofender-vos.
Porque puxar uma carroça é ser puxado por ela pela razão de haver ordens para puxar, ou haver carroça para ser puxada. Ou ser mesmo um passatempo passar o tempo puxando.
Mas ser livre é inventar a razão de tudo sem haver absolutamente razão nenhuma para nada.
É ser senhor total de si quando se é senhoreado.
É darmo-nos inteiramente sem nos darmos absolutamente nada.
É ser-se o mesmo, sendo-se outro.
É ser-se sem se ser.
Assim, pois, tudo é complicado outra vez.
É mesmo possível que sofra aqui e ali de um pouco de engasgamento.
Mas só a estupidez se não engasga, ó meritíssimos, na sua forma de ser quadrúpede, como vós o deveis saber.»
Vergílio Ferreira, in 'Nítido Nulo'.
Sei que nem sempre fiz o que me apeteceu, mas ainda assim sou livre.
Sei, isso sei, que sempre fiz o que os outros não queriam que eu fizesse.
Gosto de ser livre.
Embirro com os que gostam de ditar caminhos.
Não sou de caminhar pelos caminhos dos outros.
Quero sempre ir pelos caminhos que eu escolher.
Só por esses.
Se cair, levanto-me.
Podeis crer!!
Hei-de chegar, mas chegarei.
Só os que chegaram - à liberdade - e às vezes a sentem, perigar, gritarão sempre, convictamente, decididamente: viva a liberdade!, liberdade ou morte!