sábado, fevereiro 17, 2007

O Crime ainda compensa


Cada vez mais, assistimos atónitos, aos sucessivos encerramentos de empresas. Se, nalgumas regiões, alguns dos trabalhadores desempregados, ainda encontram trabalho, noutras, dada a fraca existência de alternativa de emprego, só resta mesmo a emigração ou a imigração.
Cumulativamente a todo o processo de falência, existem situações que privilegiam, uns poucos e, prejudicam muitos.
O processo é conhecido, só que as autoridades nada fazem e pior, pactuam com o processo. Os interesses são mais que muitos para empresários (?), governantes e banca.
A cartilha do Epaminondas – empresário, é conhecida.
Um belo dia, resolve vir até ao interior, hospeda-se no melhor hotel do burgo, faz-se anunciar numa qualquer associação, apresenta as «suas» credenciais de empresário de «sucesso» e, se tiver uma comenda ao peito, então, o sucesso é garantido. Nestas coisas de apresentação e representação, importa apresentar «credenciais» de monta, nem que sejam as de director desportivo do clube de rua ou de benfeitor da caridade da santa mãezinha das necessidades.
Após as apresentações e representações, Epaminondas, o nome é importante, que seja fora do vulgar, faz anunciar na comunicação social da região, que: «empresário pretende criar 1000 novos postos de trabalho no burgo».
O «caminho» para a senda heróica da aldrabice está traçado.
De imediato, surgem os «contactos» com a autarquia local. Surgem as fotografias, as entrevistas e o anúncio público do «casamento» entre poder político e o Epaminondas.
Oferece-se um terreno a preço simbólico, uma coisa barata, uns cêntimos, só para justificar «nas contas da câmara» a venda do terreno. Os acessos, saneamento, infra-estruturas, benefícios de toda a ordem, são por conta e risco da autarquia, - «sabemos receber os nossos investidores, pois claro e, 1000 postos de trabalho dão muito jeito nas eleições».

Obtido o terreno, a nenhum custo, Epaminondas inicia «outros» contactos. Agora, contrata uma empresa «amiga» que vai elaborar o projecto para obter os «fundos», os «incentivos» e toda a panóplia que lhe garanta o financiamento parcial. O resto será obtido junto dos «jesuítas» dos penhores, a juros interessantes e a prazo dilatado, o mais que os «influentes» e «afluentes» garantirem, pois claro, que os «amigos» são para as ocasiões.
O projecto está aprovado e o dinheiro no bolso do Epaminondas.
Para que a solenidade do «acto» atinja os efeitos desejados, «faz-se» a inauguração da «coisa». Um séquito de romeiros, rameiras, curas e sacristães fazem guarda ao ilustre Epaminondas. Momento solene. A «placa», com o nome do chefe da edilidade, é descerrada pelo regedor e benzida pelo cura. Nestas coisas, importa afastar os maus presságios e os demoníacos delatores dos «investimentos de interesse público».
As fotografias da «família», as entrevistas para a imprensa sucedem-se ao compasso da banda, que toca o opus.
Ao almoço, sim porque nisto de inaugurações «fica» sempre bem o conforto do estômago, os discursos sucedem-se. Elogios mútuos e frases de salão rematam as cavacas e os doces moles da sobremesa.
Epaminondas sorri. O terreno já é dele. O dinheiro já lhe canta no bolso. Os bacocos presenteiam-no com mordomias, beija-mão e vivas, tudo a Bem da Nação, claro.
Logo ali, no faustoso almoço «oferecido» pela câmara, surgem os pedidos de emprego: - veja lá se arranja um emprego ao meu sobrinho, à minha prima, sabe, não têm senão o 6.º ano, mas «trabalha» bem, de «confiança».
A empresa aí está! Epaminondas dedica-se mais aos prazeres da vida, carros, para ele, mulher e filhos, serviço de quartos em bons hotéis, viagens e férias. Férias e mais férias, idas ao Brasil e a empresa que se governe.
Afinal, não há mais de 100 empregos. Que importa? Alguém dá por isso? O paraíso fiscal permite-lhe todos os devaneios.
Os salários começam a não ser pagos. Subsídios de natal e de férias atrasam-se, adiados para «letras» a perder de vista.
«É a crise, o código laboral, a flexibilização e a fraca produtividade dos trabalhadores, que contribuíram para a situação da empresa», diz o Epaminondas.
Bem de ver, está claro !!!
Epaminondas, não pagou à banca, ficou com os descontos da segurança social, para sua própria «segurança» e final anunciado – Falência.
A autarquia altera o PDM. Epaminondas vende o terreno para construção. Ganhos repartidos. A maquinaria, segundo Dura lex sed lex, é vendida em hasta pública e o dinheiro vai para a banca.
Trabalhadores ficam com um papel na mão - fundo de desemprego.
Epaminondas com paradeiro incerto, parte para outras paragens, outra aventura, esta terminou.
Qualquer semelhança com a realidade não é coincidência, faltando um ou outro «contorno» de «legitimidade» democrática não contemplada no texto.

Esta semana ficou-se a saber que a CGD fica com 1,6 milhões de euros resultantes da venda do imóvel da Gartêxtil, empresa da Guarda, e que as indemnizações não vão chegar para todos os trabalhadores da empresa.
O fecho inesperado da Gartêxtil, em Maio de 2002, uma das principais empregadoras do concelho, apanhou a cidade de surpresa. A administração demitiu-se de funções, numa altura em que já não tinha encomendas nem tecido em armazém, deixando cerca de 190 trabalhadoras no desemprego, depois de vários anúncios de abertura e propostas de aquisição.
Por apurar está o que se passou na empresa para que tenha fechado ao fim de quatro anos após injecção de mais de 1,8 milhão de euros de apoios, atribuídos pelo IAPMEI, e de um processo de recuperação durante o qual o seu passivo foi drasticamente reduzido e com prazos de pagamento a longo prazo (10 anos), tendo os trabalhadores abdicado de 90 por cento das suas remunerações em atraso.
Algum dia se saberá?
E o caso Vodratex em Seia? E todos os outros?
Milhões de euros perdidos sem que ninguém se preocupe com a sua devolução. A Bem de alguns, claro, a comandita dos Epaminondas oportunistas e, dos comparsas de negociatas.