Há escritores que nos marcam para sempre.
Eça de
Queirós é, indubitavelmente, um de entre poucos!
Esta
carta revela todo o génio de Eça!
Um
país que tem um escritor como Eça de Queirós é um privilegiado!
«[Porto,
1884]: Eça de Queirós: "Meu querido Oliveira Martins"
Meu
querido Oliveira Martins
A
minha sublevação intestinal tem resistido à repressão conservadora do Bismuto.
Preciso por isso um desses sujeitos que no tempo de Molière, frequentavam a
alta sociedade com uma seringa debaixo do braço, e que nós hoje chamamos um príncipe
da ciência. Conheces tu algum bom -- tão bom que distinga realmente o intestino
grosso da aorta? O que vem aqui regularmente ao hotel parece-me um mendigo da
ignorância.
Se
não estiveres em casa, ao receber desta, manda-me pelo correio, num bilhete-postal,
o nome e adresse do sábio, -- para que eu o mande chamar amanhã.
Excelente
o Friedlaender! Já tenho a minha estradinha romana, com a sua estalagem a sua
tabuleta À Grande Cegonha, a sua inscrição convidativa invocando Apolo; e já
tenho o aspecto da estrada, com as carroças de viagem, os arrieiros númidas, e
os pajens favoritos com o rosto coberto duma máscara de miga seca de pão, para
não sofrerem no acetinado da tez, com a humidade ou com o pó! Grande gente!
Manda
o nome do sábio.
Teu do C
Queiroz»