terça-feira, abril 12, 2016

Ponto de Vista


É uma evidência para os munícipes minimamente atentos que Álvaro Amaro deu já início à pré-campanha eleitoral, visando a sua reeleição. De facto, sucedem-se as idas às freguesias pelos motivos mais comezinhos. A intenção é a de agradar e de criar a todo o custo a ideia política de que se tem obra feita. O marketing é tão manifesto que me divido entre sentimentos contraditórios. De um lado, pontua o ridículo de – por exemplo – um presidente de Câmara se prestar ao papel de subscritor de protocolos para, pasme-se, aumentar um cemitério! Isso mesmo, aumentar um cemitério! Do outro, não posso deixar de tirar o chapéu a Álvaro Amaro pelo seu sentido de oportunidade e pela sua falta de escrúpulos políticos. Na verdade, Álvaro Amaro, que fez tanto pela Guarda como eu algum dia fiz, sei lá, por Madrid, vai conseguindo passar a mensagem de uma presidência bem mexidinha, tomando-nos certamente por mais parvos do que realmente somos.

Álvaro Amaro, o campeão das festas e foguetórios, homem consabidamente bem amigo de seu filho e dos amigos dele, não resistiu a fazer acompanhar o tal protocolo cemiterial por mais uma sessão de comes e bebes. As circunstâncias eram – pelos vistos – as adequadas à comezaina, e já agora, os figurantes também! Não posso dizer que ainda esteja por descobrir a razão para haver sempre gente deste quilate que se presta a estas tristes figuras, mas abstenho-me de vir para aqui dar pérolas a porcos. É que pérolas não tenho e porcos já há infelizmente que chegue…

Como um cemitério nunca vem só, ou antes, como uma festa – que para Álvaro Amaro será quase a mesma coisa – nunca vem só, Álvaro Amaro meteu os pés ao caminho para fazer crer que é homem de meter mãos à obra, e vai daí, assinou novo protocolo, desta feita em Vila Fernando e para a requalificação de uma estrada. Se também houve comezaina ou não, isso é coisa que já não sei, que isto de comezainas em tempo de crise já não é como noutros tempos e há que dar atenção à saúde de quem anda mal habituado.

Álvaro Amaro distribui protocolos e papas, para não dizer coisa pior, como D. Sancho distribuía um dia forais. Ou melhor dito, D. Sancho há-de dar voltas no túmulo ao perceber finalmente como se faz a adequada gestão destas coisas, com salgadinhos e moscatéis à mistura.

Mas desenganem-se aqueles que sejam tentados a pensar que Álvaro Amaro é um político situado entre o cromo e o buçal. Nada mais longe da verdade! Estamos a falar de alguém cuja inteligência estratégica faria inveja a um Napoleão e cuja seriedade e coerência na ação transformariam um vulgar Zé do Telhado num dos príncipes da Ínclita Geração. Álvaro Amaro é de facto o mais brilhante político que algum dia passou pela Guarda. E pouco dado a distrair-se com pormenores. É por isso, o mais competente!

De facto, o que chamar a um homem defensor dos ajustes diretos que consegue pegar num concurso público de 1,5 milhões de euros para a requalificação de cinco estradas municipais e transformá-lo em cinco pequenos concursos públicos independentes uns dos outros para a construção das mesmas estradas pelo preço unitário de 350 mil euros? Não percebem? E se eu vos disser que havendo cinco concursos de 350 mil em vez de um concurso de 1 milhão e meio o Tribunal de Contas já não pode meter o bedelho no assunto? Ou será preciso outro protocolo comicial com beberete para que os ouvintes vislumbrem a lucidez estratégica do nosso edil?

E se eu vos disser, para terminar, que ele é também o mais culto do mundo e arredores? Ou desconhecem que a ornamentação da rotunda do Rio Diz foi entregue por ajuste direto a uma artista que faz parte do círculo de relações do poder de Coimbra, centrado na esposa de Álvaro Amaro, a qual por sua vez tem responsabilidades de chefia na Direção Regional de Cultura do Centro? E que vocês, ouvintes, é que afinal não percebem nada disto nem a sorte que temos em ter Álvaro Amaro a comandar as nossas vidas?

Como um dia disse Gabriel Garcia Márquez, «afastem-se vacas, que a vida é curta».

Tenham um bom dia.

(Crónica rádio F – 11 de Abril de 2016)