quarta-feira, maio 14, 2025

Ponto de vista

Os temas que dominam a atualidade do nosso concelho são variados e já habituais. Promessas nunca cumpridas, o populismo que certas iniciativas vão a ser anunciadas, os gastos exorbitantes em iniciativas que em nada beneficiam a maioria dos cidadãos, mas apenas uns poucos, de preferência os eunucos e as homenagens com direito a condecorações mútuas.

O caso de um prédio que ruiu no Centro Histórico da Guarda vem trazer à coação mais um grave crime ético. Lembrar que ético refere-se a tudo o que está relacionado com a ética, uma área da filosofia que estuda os princípios morais que orientam a conduta humana. Significa agir conforme as regras e princípios morais, ou seja, com a moral. A ética procura responder a questões como "como devemos viver?" e "como devemos agir?", procurando compreender e justificar os comportamentos morais. Convém distinguir a ética da moral. A ética é uma teoria que busca explicar e justificar a moral, enquanto a moral é a prática dos princípios éticos em sociedade. O ruir de um prédio no Centro Histórico é algo que não admira os cidadãos que vão, civicamente, alertando o executivo camarário para o desleixo, incompetência e, em última instância à inércia, à indiferença de quem devia cuidar do que ainda vamos a designar por património. E não é que a queda do prédio se dá com a apresentação das promessas de mais um plano, o Plano de Revitalização do Centro Histórico da Guarda. Anunciado com o empolamento que uma promessa merece, e com a presença de um elemento do governo central, de Montenegro, no caso o secretário de Estado das Florestas. Um secretário, ou seja, um criado do ministro como definiu em tempos Cavaco Silva, revela o interesse e a importância que um governo central dá a tais anúncios. Lisboa continua a desprezar o interior, quer queiram ou não dissimular. O que tem a ver as florestas com um dito Plano de Revitalização de um Centro Histórico? Ou será que tem tudo a haver e a ver com a chamada lei dos solos? Em frente!

Após leitura, na página oficial da Câmara da Guarda, do dito plano constata-se facilmente que nada, mas mesmo nada, se acrescenta ao que já era conhecido. Tudo como dantes, quartel de Abrantes! Na cerimónia da apresentação do plano o presidente do executivo camarário disse que atualmente há 21 serviços públicos e 13 entidades privadas sediadas naquela zona da cidade, num total de mais de 600 postos de trabalho.

Bem, os números são falaciosos no nosso ponto de vista. Tal como anunciou que ia elencar todos os empregos criados pela câmara, seria de todo curioso fazer o mesmo quanto aos tais serviços públicos e entidades privadas para se comprovar da veracidade do anúncio. Cada vez mais acredito no ‘slogan’ do extraordinário escritor e publicitário, Alexandre O’Neil, como se a publicidade não fosse «outro modo do fazer poético» quando dizia a propósito de um reclame para uma campanha destinada a criar a necessidade de uma refeição suplementar comendo frango, «Coma frango, a ceia de crista».

E de crista falou o presidente quando anunciou que iriam ser feitos investimentos no valor de 9,4 milhões de euros no tal plano. Mas quem acredita? Estes publicitários são mesmo uns exagerados. Eleições à porta, pois claro! Mas diz mais o presidente. Elenca os investimentos, Casa das Artes, Centro Interpretativo das Judiarias de Portugal, Museu dos Sabores, que por coincidência já teve outro nome, Solar dos Sabores e o tão famigerado Órgão da Sé. A religião católica apostólica romana sempre na primeira linha como convém. E onde ficam as famosas compras das 25 casas no tal plano? O secretário das florestas deve ter ficado deveras impressionado com tanta árvore. Por fim, não posso, não devo ficar indiferente à troca de galhardetes entre o presidente da câmara e o presidente da Junta de freguesia de Famalicão da Serra. Emocionante e enternecedor. Faz-me lembrar novamente o Alexandre O’ Neil : não há “papo de anjo” que seja meu derriço, galo que cante a cores na minha prateleira, alvura arrendada para o meu devaneio, bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço. Portugal: questão que tenho comigo mesmo, golpe até o osso, fome sem entretém, perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes, rocim engraxado, feira cabisbaixa, meu remorso, meu remorso de todos nós…

Tenham uma excelente semana.