O nome de Tito Plauto será provavelmente desconhecido para muitos de vós. Assim, digo-vos que foi um dramaturgo romano com enorme popularidade que viveu entre 230 e 180 AC. Escreveu o Soldado Fanfarrão, a sua peça mais longa e uma das mais antigas. Que, sendo longa, nem por isso causa ao leitor a mais leve sombra de enfado. Deve-se esse sucesso ao ritmo da acção e à graça da linguagem, mas, sobretudo, ao desfile dos vários tipos, um dos quais, pelo menos, abunda ainda nos nossos dias: o fanfarrão.
O fanfarrão é aquele indivíduo que, não passando de um pobre diabo, se julga muito acima do comum dos mortais e que, não raro, é vítima das suas próprias fantasias.
O nosso Gil Vicente recriou o velho fanfarrão ao colocá-lo em cena nas diversas farsas sob a figura do escudeiro presunçoso, caricaturando a personagem-tipo do guerreiro ideal própria da épica homérica, particularmente da Ilíada.
Ora, esta figura típica, quer da obra de Plauto, quer de Gil Vicente, foi-nos trazida à memória pela intervenção do actual presidente da câmara da Guarda.
Sempre que o ouvimos não resisto a lembrar-me da tal figura do escudeiro presunçoso. Na última Assembleia Municipal da Guarda a encenação foi a mesma de sempre. Começando, desde logo, pelo Plano de Revitalização da Serra da Estrela, que, importa lembrar, não é nem pretende ser apenas da Guarda. Começou a coisa com a ostentação do trabalho realizado, assumindo-se o nosso putativo escudeiro, ou fanfarrão, como o líder do movimento do plano de revitalização, secundarizando o papel dos restantes autarcas.
A glória do plano, nas suas palavras, e para falar curto, é sua! Por um acaso pensou o nosso fanfarrão como podem os restantes autarcas sentir-se ao apresentarem o mesmo plano nas suas terras e, nomeadamente, nas suas assembleias municipais?
Por outro lado, sabemos muito bem como a nossa personagem preza o recato das negociações e dos feitos heróicos em prol da Guarda. Basta para o efeito entrar nas redes sociais da responsabilidade da Câmara da Guarda e perceber ali o pendor propagandístico dos actos públicos. O Plano de Revitalização não deveria simplesmente ser politizado, não deveria servir de arma de arremesso político.
Deveria ser abordado com neutralidade e genuína humildade, sob a sombra da célebre máxima segunda a qual “À mulher de César não basta ser honesta, é preciso parecer honesta”. No fim de elencar as várias entidades que colaboraram com propostas para o Plano, descobrimos pela boca do nosso fanfarrão, ou escudeiro da coisa pública, à laia de conclusão, que afinal ainda não existe o plano definitivo!
Como tal, resta-nos o cardápio das propostas do Plano que seria demasiado fastidioso e enfadonho estar aqui a enunciar. Ainda assim, não faltou a referência, como convinha, à estrada verde para Videmonte, a tal que há décadas é prometida com fanfarronice.
Pode-se até concordar que é preciso e urgente passar-se das palavras aos actos. Falando do concreto e daquilo que prejudica gravemente a vida dos cidadãos, importa que se concretize a reabertura das extensões de saúde, nomeadamente por meio de um efectivo e eficaz diálogo entre a autarquia e a Unidade Local de Saúde.
Intenções nunca resolveram sozinhas os problemas. Exige-se uma tomada firme de posição! E depois, o célebre Plano Ferroviário. É realmente importante que a Guarda tenha a linha de alta velocidade, como disse o senhor presidente. E não ficar a coisa ao nível daquela rotunda que era para ter um comboio e só tem carris. Ficou a saber-se que o fanfarrão da nossa história encabeçará um movimento separatista se o tal projecto da linha de alta velocidade não passar pela Guarda. Quem dará o grito do Ipiranga é que ainda não sabemos. Arrisca-se é a que já não haja por cá muita população para o ouvir.
Muito menos ali para os lados do Hotel Turismo, que apenas continua a servir de símbolo da conversa oca e da fanfarronice que ao longo dos anos proliferou à sua custa. De promessas e de boas intenções está o inferno tão cheio que já lá não há espaço para mais nada, muito menos para propaganda e gabarolice! Para recuperar esse espaço, há que recorrer ao diálogo, à colaboração, e ao entendimento. De preferência, com consensos, humildade e menos conversa. Caso contrário, ganha o diabo e perde a Guarda!
E sobretudo, convinha evitarem-se exaltações despropositadas acerca da intervenção de um senhor deputado da oposição a propósito de concursos de admissão de pessoal sem transparência. Numa Assembleia Municipal, ou noutro qualquer local público, a serenidade deve sempre imperar e o exemplo vir de cima. Não são precisos gritos, ameaças e sugestões de queixas aos tribunais. Sejamos civilizados e urbanos em todos os actos. É pedir muito? Para alguém habituado, como disse um deputado, a que, de assembleia em assembleia, se discuta tudo, mas não se discuta nada, se calhar até é.
Tenham uma excelente semana, de preferência sem fanfarronices pós-eleitorais.
O fanfarrão é aquele indivíduo que, não passando de um pobre diabo, se julga muito acima do comum dos mortais e que, não raro, é vítima das suas próprias fantasias.
O nosso Gil Vicente recriou o velho fanfarrão ao colocá-lo em cena nas diversas farsas sob a figura do escudeiro presunçoso, caricaturando a personagem-tipo do guerreiro ideal própria da épica homérica, particularmente da Ilíada.
Ora, esta figura típica, quer da obra de Plauto, quer de Gil Vicente, foi-nos trazida à memória pela intervenção do actual presidente da câmara da Guarda.
Sempre que o ouvimos não resisto a lembrar-me da tal figura do escudeiro presunçoso. Na última Assembleia Municipal da Guarda a encenação foi a mesma de sempre. Começando, desde logo, pelo Plano de Revitalização da Serra da Estrela, que, importa lembrar, não é nem pretende ser apenas da Guarda. Começou a coisa com a ostentação do trabalho realizado, assumindo-se o nosso putativo escudeiro, ou fanfarrão, como o líder do movimento do plano de revitalização, secundarizando o papel dos restantes autarcas.
A glória do plano, nas suas palavras, e para falar curto, é sua! Por um acaso pensou o nosso fanfarrão como podem os restantes autarcas sentir-se ao apresentarem o mesmo plano nas suas terras e, nomeadamente, nas suas assembleias municipais?
Por outro lado, sabemos muito bem como a nossa personagem preza o recato das negociações e dos feitos heróicos em prol da Guarda. Basta para o efeito entrar nas redes sociais da responsabilidade da Câmara da Guarda e perceber ali o pendor propagandístico dos actos públicos. O Plano de Revitalização não deveria simplesmente ser politizado, não deveria servir de arma de arremesso político.
Deveria ser abordado com neutralidade e genuína humildade, sob a sombra da célebre máxima segunda a qual “À mulher de César não basta ser honesta, é preciso parecer honesta”. No fim de elencar as várias entidades que colaboraram com propostas para o Plano, descobrimos pela boca do nosso fanfarrão, ou escudeiro da coisa pública, à laia de conclusão, que afinal ainda não existe o plano definitivo!
Como tal, resta-nos o cardápio das propostas do Plano que seria demasiado fastidioso e enfadonho estar aqui a enunciar. Ainda assim, não faltou a referência, como convinha, à estrada verde para Videmonte, a tal que há décadas é prometida com fanfarronice.
Pode-se até concordar que é preciso e urgente passar-se das palavras aos actos. Falando do concreto e daquilo que prejudica gravemente a vida dos cidadãos, importa que se concretize a reabertura das extensões de saúde, nomeadamente por meio de um efectivo e eficaz diálogo entre a autarquia e a Unidade Local de Saúde.
Intenções nunca resolveram sozinhas os problemas. Exige-se uma tomada firme de posição! E depois, o célebre Plano Ferroviário. É realmente importante que a Guarda tenha a linha de alta velocidade, como disse o senhor presidente. E não ficar a coisa ao nível daquela rotunda que era para ter um comboio e só tem carris. Ficou a saber-se que o fanfarrão da nossa história encabeçará um movimento separatista se o tal projecto da linha de alta velocidade não passar pela Guarda. Quem dará o grito do Ipiranga é que ainda não sabemos. Arrisca-se é a que já não haja por cá muita população para o ouvir.
Muito menos ali para os lados do Hotel Turismo, que apenas continua a servir de símbolo da conversa oca e da fanfarronice que ao longo dos anos proliferou à sua custa. De promessas e de boas intenções está o inferno tão cheio que já lá não há espaço para mais nada, muito menos para propaganda e gabarolice! Para recuperar esse espaço, há que recorrer ao diálogo, à colaboração, e ao entendimento. De preferência, com consensos, humildade e menos conversa. Caso contrário, ganha o diabo e perde a Guarda!
E sobretudo, convinha evitarem-se exaltações despropositadas acerca da intervenção de um senhor deputado da oposição a propósito de concursos de admissão de pessoal sem transparência. Numa Assembleia Municipal, ou noutro qualquer local público, a serenidade deve sempre imperar e o exemplo vir de cima. Não são precisos gritos, ameaças e sugestões de queixas aos tribunais. Sejamos civilizados e urbanos em todos os actos. É pedir muito? Para alguém habituado, como disse um deputado, a que, de assembleia em assembleia, se discuta tudo, mas não se discuta nada, se calhar até é.
Tenham uma excelente semana, de preferência sem fanfarronices pós-eleitorais.