Com as eleições
autárquicas já marcadas, eis que começam a surgir as candidaturas no concelho
da Guarda.
No PSD a montanha pariu
um rato. Depois do folhetim da ida de Álvaro Amaro para Coimbra, o filho que
foi desdenhado por lá e parece ser pródigo por cá, à terra voltou. Digno de
nota é o facto de ter regressado sozinho, já que o CDS se desvinculou da
coligação que da última vez lhe deu a vitória.
Talvez por isso, Álvaro
Amaro conseguiu “roubar” à lista de independentes do seu adversário de então,
Virgílio Bento, aquela que é agora a sua candidata a presidente da Assembleia
Municipal da Guarda. E para mandatário, escolheu um militante do CDS, tudo para
fingir que não vai só com os seus. Dizem as más-línguas que com isso Álvaro
Amaro sempre conseguirá mais dois votos, o do tal mandatário e o da respetiva
esposa…
Quanto ao resto, nada de
novo ou coisa parecida. Se muda o director de campanha, o diretor financeiro é
o mesmo. E o mesmo se dirá do coordenador do programa eleitoral, o presidente
do Instituto Politécnico da Guarda, a exemplo do que já aconteceu há quatro
anos. Registe-se a propósito que o executivo camarário acabou recentemente de
atribuir 20 mil euros ao referido Instituto, o que em política só pode
tratar-se de uma inocente coincidência.
Quanto ao PS… bem, na
Rua Francisco dos Prazeres a coisa parece mais aliviada, embora seja quase
unânime que há muito que os prazeres já não moram por lá…
Afastada a hipótese de
Joaquim Carreira, a responsabilidade passou para a concelhia da Guarda. Mas o seu
presidente, João Pedro Borges, terá declinado por motivos profissionais a
possibilidade de ser ele próprio o candidato. Empresário nas áreas da
comunicação, marketing, turismo e eventos, diz não ter disponibilidade
para uma intervenção mais profunda na vida política. Recentemente ganhou, por
exemplo, um contrato com a Rede Regional de Empreendedorismo, no âmbito de um
projecto que envolve o Politécnico da Guarda, o Nerga (Núcleo Empresarial da
Região da Guarda) e as câmaras da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra
da Estrela, entre outras entidades, projeto esse para o qual a empresa de João
Pedro Borges vai fazer assessoria de comunicação e desenvolver o plano
estratégico de marketing. Estamos a falar de uma prestação de serviços global
de quase 40 mil euros, de acordo com o contrato público assinado no final de
Dezembro, que também deve ser outra coincidência.
Com uma vida
empresarial para desenvolver e salários para pagar, compreende-se assim que o
presidente da concelhia do PS tenha tentado passar a batata quente para António
Saraiva, o presidente da federação distrital. Mas também este se mostrou
indisponível, por motivos pessoais, para concorrer a qualquer Câmara do
distrito.
Outra solução não
restou ao partido que repescar uma velha raposa da política autárquica, Eduardo
Brito, o qual foi obrigado a engolir o que antes havia afirmado acerca de o
candidato à câmara da Guarda dever ser alguém natural da cidade ou alguém a ela
ligado…
As perguntas que se
colocam são, por um lado, “o que foi prometido a Eduardo Brito para que este
aceitasse aquilo que antes renegou”, e por outro, “se em caso de derrota
assumirá a vereação ou se marchará da Guarda tão rapidamente como aqui chegou
para fazer o frete ao partido”?
Das outras candidaturas
ainda se sabe menos, não sendo no entanto de espantar que as contas possam sair
furadas a Álvaro Amaro na sua tentativa de pescar em águas do CDS. Deixo-as por
isso para segundas núpcias.
Mas seja qual for o
resultado, há uma coisa que já é certa: ninguém nos livra de termos a cidade
toda esburacada e enlameada. Pelos vistos, para alguns, se um voto pesa muita
coisa, um estaleiro de obras pesa muitos mais. Sobretudo em ano de eleições.
Muito bom dia para todos.
(Crónica na Rádio F - 3 de Abril 2017)