quarta-feira, abril 05, 2017

Pnto de vista


Com as eleições autárquicas já marcadas, eis que começam a surgir as candidaturas no concelho da Guarda.

No PSD a montanha pariu um rato. Depois do folhetim da ida de Álvaro Amaro para Coimbra, o filho que foi desdenhado por lá e parece ser pródigo por cá, à terra voltou. Digno de nota é o facto de ter regressado sozinho, já que o CDS se desvinculou da coligação que da última vez lhe deu a vitória.

Talvez por isso, Álvaro Amaro conseguiu “roubar” à lista de independentes do seu adversário de então, Virgílio Bento, aquela que é agora a sua candidata a presidente da Assembleia Municipal da Guarda. E para mandatário, escolheu um militante do CDS, tudo para fingir que não vai só com os seus. Dizem as más-línguas que com isso Álvaro Amaro sempre conseguirá mais dois votos, o do tal mandatário e o da respetiva esposa…

Quanto ao resto, nada de novo ou coisa parecida. Se muda o director de campanha, o diretor financeiro é o mesmo. E o mesmo se dirá do coordenador do programa eleitoral, o presidente do Instituto Politécnico da Guarda, a exemplo do que já aconteceu há quatro anos. Registe-se a propósito que o executivo camarário acabou recentemente de atribuir 20 mil euros ao referido Instituto, o que em política só pode tratar-se de uma inocente coincidência.

Quanto ao PS… bem, na Rua Francisco dos Prazeres a coisa parece mais aliviada, embora seja quase unânime que há muito que os prazeres já não moram por lá…

Afastada a hipótese de Joaquim Carreira, a responsabilidade passou para a concelhia da Guarda. Mas o seu presidente, João Pedro Borges, terá declinado por motivos profissionais a possibilidade de ser ele próprio o candidato. Empresário nas áreas da comunicação, marketing, turismo e eventos, diz não ter disponibilidade para uma intervenção mais profunda na vida política. Recentemente ganhou, por exemplo, um contrato com a Rede Regional de Empreendedorismo, no âmbito de um projecto que envolve o Politécnico da Guarda, o Nerga (Núcleo Empresarial da Região da Guarda) e as câmaras da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela, entre outras entidades, projeto esse para o qual a empresa de João Pedro Borges vai fazer assessoria de comunicação e desenvolver o plano estratégico de marketing. Estamos a falar de uma prestação de serviços global de quase 40 mil euros, de acordo com o contrato público assinado no final de Dezembro, que também deve ser outra coincidência.

Com uma vida empresarial para desenvolver e salários para pagar, compreende-se assim que o presidente da concelhia do PS tenha tentado passar a batata quente para António Saraiva, o presidente da federação distrital. Mas também este se mostrou indisponível, por motivos pessoais, para concorrer a qualquer Câmara do distrito.

Outra solução não restou ao partido que repescar uma velha raposa da política autárquica, Eduardo Brito, o qual foi obrigado a engolir o que antes havia afirmado acerca de o candidato à câmara da Guarda dever ser alguém natural da cidade ou alguém a ela ligado…

As perguntas que se colocam são, por um lado, “o que foi prometido a Eduardo Brito para que este aceitasse aquilo que antes renegou”, e por outro, “se em caso de derrota assumirá a vereação ou se marchará da Guarda tão rapidamente como aqui chegou para fazer o frete ao partido”?

Das outras candidaturas ainda se sabe menos, não sendo no entanto de espantar que as contas possam sair furadas a Álvaro Amaro na sua tentativa de pescar em águas do CDS. Deixo-as por isso para segundas núpcias.

Mas seja qual for o resultado, há uma coisa que já é certa: ninguém nos livra de termos a cidade toda esburacada e enlameada. Pelos vistos, para alguns, se um voto pesa muita coisa, um estaleiro de obras pesa muitos mais. Sobretudo em ano de eleições.
Muito bom dia para todos.
 
(Crónica na Rádio F - 3 de Abril 2017)