Muito se falou e
escreveu nos últimos dias acerca da polémica que rodeou o dossier da substituição da administração da ULS da Guarda. A coisa
estalou com a vinda a público de um e-mail no qual alegadamente a distrital do
PS ameaçou retirar a confiança política ao ministro da Saúde por discordar da
proposta em discussão. E digo alegadamente, porque hoje já se sabe que essa
desconfiança se reportava apenas à administração em causa.
Vamos então aos factos
e que depois cada um julgue por si.
O nome de quem se
falava para presidir à administração era o de Isabel Coelho, atualmente
responsável pela gestão da unidade de saúde familiar da Ribeirinha. Isabel
Coelho terá tentado impor como diretora clínica a médica dermatologista Fátima
Cabral. Ora, foi aqui que começaram os problemas. E porquê? Fátima Cabral foi a
diretora clínica do consulado de Ana Manso, personagem há muito ligada ao PSD e
detentora do triste recorde de ter presidido à mais curta administração de
sempre do nosso hospital. De facto, a equipa de Ana Manso e de Fátima Cabral
foi demitida por incompetência ao fim de menos de um ano em funções, tendo
deixado como imagem de marca vários escândalos e muitos problemas na
instituição.
Fátima Cabral apôs no
passado a sua assinatura em diversas decisões, no mínimo, de muito duvidosa
sensatez. Por exemplo, subscreveu o pedido de vinda do marido de Ana Manso para
a Guarda e confirmou mais tarde a sua cedência pelo hospital de Castelo Branco.
Aprovou a sua inenarrável nomeação para o cargo de auditor interno, e, quando a
coisa deu para o torto, o seu discreto regresso a Castelo Branco!
Isto é, Fátima Cabral,
que até achava muito bem que fosse um marido a fiscalizar os atos gestionários
da esposa, esteve sempre disponível para tudo aquilo que Ana Manso achasse que
precisava.
Além disso, contribuiu
grandemente para prejudicar os interesses da própria instituição, ao não tomar
decisões incontornáveis ou ao não se demitir quando não lhe permitiram que as
tomasse. É do domínio público o caso da cirurgia, serviço que viu a sua
idoneidade formativa ser-lhe retirada pela Ordem dos Médicos, exatamente por
Fátima Cabral nunca ter conseguido resolver o problema da sua direção de
serviço, que permaneceu por essa razão numa incompreensível gestão corrente.
Para piorar as coisas,
e digo-o com todo o à vontade porque nem sequer fui eu quem politizou esta
questão, Fátima Cabral apoiou-se no médico João Correia como assessor da sua
direção clínica. Só por coincidência, João Correia foi à data uma das
principais figuras da lista dissidente do PS de Virgílio Bento à Câmara, tendo
por isso contribuído em muito para o que se seguiu e para a conquista da
autarquia por Álvaro Amaro e pelo PSD.
Até a mim, que defendo
acerrimamente a despartidarização deste tipo de cargos, me é impossível não
compreender o absurdo de se defender que Isabel Coelho deveria poder – vá-se lá
saber porquê – integrar um elemento com um currículo tão desastrado e
incendiário na sua equipa.
Pode o PS local não ter
agarrado nesta questão pelo ângulo mais correto, dando o flanco às acusações
que depois choveram de todos os lados. Mas aceito, para mais conhecendo os
riscos conflituais inerentes a uma eventual reedição do regresso de Fátima
Cabral a este tipo de funções, que a escolha de Isabel Coelho é reveladora da
falta de bom senso que já no passado caracterizou por vezes o desempenho
institucional da médica.
Para tornar tudo isto
num circo, veio o PSD local chorar lágrimas de crocodilo e atacar o PS com o
argumento que em linguagem popular se chama de “corrida ao tacho”. Só a total
ausência de pudor ou a inconsciência do ridículo podem explicar que um partido
que se serviu nos últimos anos da ULS como agência privada de emprego para o
presidente da câmara e seus amigos, venha agora atirar pedras sobre o telhado
do vizinho.
O problema é que não só
o circo não acabou, como continuamos sem administração nova. Nada a que a ULS
não nos tenha já habituado. De facto, na Guarda há coisas que nunca mudam.
Muito bom dia a todos.
(Crónica na Rádio F –
20 de Março 2017)