“O
maior perigo que corre o ingénuo: o de querer ser esperto. Tão ingénuo que
cuida, coitado, de que alguma vez no mundo o conhecimento valeu mais do que a
ingenuidade de cada um. A ingenuidade é o legítimo segredo de cada qual, é a
sua verdadeira idade, é o seu próprio sentimento livre, é a alma do nosso
corpo, é a própria luz de toda a nossa resistência moral”.
Estas
palavras não são minhas, são de Almada Negreiros. Tal como a consideração de
que, e volto a citar, “A esperteza saloia representa bem a lição que sofre aquele
que não confiou afinal em si mesmo, que desconfiou de si próprio, que se
permitiu servir de malícia”.
Esta
caracterização asssenta que nem uma luva a muitos de nós e também a Álvaro
Amaro. A muitos de nós, porque continua a existir por aí muita ingenuidade. A
Álvaro Amaro, por exclusão de partes, porque não vislumbro nas redondezas melhor
exemplar da esperteza saloia, o que no caso em apreço é o maior elogio que lhe
consigo fazer.
Acredite
quem quiser que Álvaro Amaro vai concorrer pela Guarda e não por Coimbra, só
porque tem a Guarda no coração. Claro que até podem existir ingénuos espertos,
como referia Almada Negreiros, mas felizmente que nem todos os espertos são
ingénuos. Bastará perguntar-vos se acreditam mesmo que se Álvaro Amaro tivesse
a Guarda no coração, teria algum dia equacionado sequer concorrer por outro
lado…
Álvaro
Amaro, que também pertence ao grupo minoritário dos espertos que não são
ingénuos, é no entanto um espécime à parte. A diferença para os comuns mortais
que acreditam naquilo que ele diz, é que ele é calculista como ninguém e
desprovido dos mais elementares sentimentos que atrapalham o raciocínio dos vulgares
ingénuos.
Álvaro
Amaro dificilmente iria concorrer por Coimbra, não só porque há por lá muito
cão para o mesmo osso, como por as probabilidades de ganhar a eleição serem
muito inferiores às da Guarda. E Álvaro Amaro não gosta de perder nem a
feijões. Pode até ser olhado por muitos como um saloio, mas, honra lhe seja
concedida, é na verdade um dos saloios mais espertos que um dia arribou pela
Guarda.
Senão,
vejamos. Deixou um rasto de destruição em tudo o que é árvore, brindou-nos com
rotundas enfeitadas por peças e slogans de duvidosa qualidade e ainda menor
necessidade, desprezou a maior parte do concelho, incumpriu as esperanças dos
guardenses relativamente ao hotel Turismo, e encheu-nos os olhos e os ouvidos com
festas e festarolas adornadas por ajustes diretos e coisas afins. E mesmo
assim, tem o astral em alta!
Aqui chegados, Álvaro Amaro só perde a câmara
se o PS perceber de uma vez por todas porque é que a perdeu há quatro anos.
Quase nem precisa de fazer campanha. Com a ULS da Guarda e a Segurança Social
nas mãos, e umas ajudinhas de Santana Lopes em Lisboa para resolver alguns
problemas que vão surgindo em IPSSs de concelhos socialistas, Álvaro Amaro até
já colocou alguns presidentes de juntas de freguesia PS a fazer-lhe elogios na
comunicação social. A distrital do partido vai fazendo o papel do marido
enganado.
Desconheço,
com tanta ingenuidade do partido socialista local no último ano – para não lhe
chamar azelhisse – rematada pela injustificável manutenção governamental à
frente da maior empresa do distrito – a ULS – de uma administração basicamente
incompetente e marcadamente dependente de Álvaro Amaro, quem será o cordeiro
que o PS imolará no sacrifício autárquico. Se for uma pessoa de bem e de caráter
e ainda por cima com projeto, tiro-lhe o chapéu pela coragem! Vai concorrer com
todos os dados viciados, como naqueles filmes do tempo do cinema mudo em que um
dos contendores combatia com as mãos amarradas e um carapuço na cabeça e ainda
conseguia levar umas caneladas do árbitro.
A
ingenuidade é uma força que os astutos fariam mal em desprezar. E Álvaro Amaro
sabe-o melhor do que ninguém.
Muito
bom-dia para todos.
(Crónica Rádio F – 6 de Fevereiro de 2017)