A
Ingenuidade, o Ridículo, a Política e coisas que tais
Foi
recentemente promulgado pelo presidente da República um diploma que obriga à
substituição das administrações das ULS em todo o país. Assim que o diploma for
publicado, os homens de Álvaro Amaro no nosso hospital entram em gestão
corrente.
Desconhecem-se
pormenores sobre os diversos aspetos da nomeação, composição e funcionamento da
próxima administração impostos pela nova lei. Impera por isso a boateira, que é
aquela doença que assola ciclicamente a Guarda em alturas destas, apimentada
por algum pânico entre os boys do partido e diretamente proporcional na sua
intensidade à ignorância das pessoas sobre o tema em questão. Uma vez que a futurologia
não é a minha especialidade, e enquanto aguardamos, detenhamo-nos um pouco
sobre aquilo que foi a obra da proximamente defunta administração hospitalar.
Recordo
que esta administração nasceu de uma outra cujo presidente se veio a descobrir
ter sido condenado por crimes de abuso de confiança fiscal. De facto, o então
ministro da Saúde optou por “transferir” discretamente Vasco Lino para a
Covilhã, mantendo em funções o resto do órgão gestionário, que passou a ser
chefiado por Carlos Rodrigues, o mordomo de Álvaro Amaro para a maior empresa
do distrito da Guarda.
Com
esta decisão meio atabalhoada da tutela, transitaram para os próximos capítulos
os vários erros e dossiers
emblemáticos da mediocridade, incompetência e falta de visão estratégica das administrações
que nos últimos anos devastaram em crescendo o nosso hospital. Como guardense e
utente da instituição, muito poderia aqui dizer sobre o assunto. Mas como o
espaço é curto, limitar-me-ei a aludir aos mais mediáticos, de que é exemplo o
da cirurgia, o tal serviço que esteve durante anos sem diretor nomeado e que
depois teve um diretor ilegal que teve de ser corrido para o Porto, para por
fim voltar a ter como diretor o médico que afundou o serviço aos olhos da
própria Ordem dos Médicos. Ou a radiologia, que há muitos anos não só não tem
diretor como não tem médicos, mas que em compensação se descobriu ter radiação
quanto baste e estar a funcionar ilegalmente…
Numa
república que não fosse das bananas, toda esta incompetência teria sido há
muito premiada com um bilhete de comboio para as Caldas da Rainha, local de
origem do homem que Álvaro Amaro trouxe para cá. Mas como a Guarda está para o
país como uma sala de chuto está para a realidade, o governo da geringonça foi
mantendo toda esta gente no cargo, vá-se lá saber porquê, talvez como que a
querer dizer que a Guarda não merece ser salva porque há pecados que nem sequer
merecem redenção.
Álvaro
Amaro, que tem mais esperteza política num dedo do que os socialistas locais
têm no corpo todo, assistiu a tudo isto, ao princípio com preocupação pelos
danos potenciais, mas depois com gáudio perante a ingenuidade e inoperância socialistas,
qual avançado de futebol a quem o defesa da equipa contrária passa
involuntariamente uma bola que só tem depois de empurrar para dentro da baliza.
Da
próxima administração espera-se que não cometa o mesmo tipo de erros daquela
que está de saída, de que é exemplo a folclórica nomeação para uma direção de
serviço, já em período de velório, de uma médica que já esteve envolvida num
escândalo sobre horas extraordinárias e que, tendo reprovado num exame da sua
especialidade, foi agora nomeada, e cito, por reunir “as competências
necessárias para exercer tal cargo” e ter “a confiança técnica da
administração” para a “implementação de uma nova política de gestão que se
traduza numa maior eficiência e eficácia”…
O
ridículo diverte-nos, mas às vezes também mata. Nem que seja o sentido do
decoro. Álvaro Amaro, estrategicamente caladinho perante tudo isto, não
perdoará erros destes a quem aí venha. Ele sabe melhor do que ninguém que se a
ingenuidade é um modo de se ser inocente, a infantilidade é um modo de se ser
idiota. E que isso, em política, faz toda a diferença… Até na Guarda!
(Crónica no jornal "O Interior" - 8 de Fevereiro de 2017)